Análise dos casos de meningites e meningoencefalites nos pacientes pediátricos internados em um hospital terciário
Resumo
A meningite continua sendo uma doença com altas taxas de morbidade no Brasil. O
Hospital Universitário de Santa Maria é referência para toda a região centro-oeste do
estado, abrangendo 32 municípios e possui serviços especializados em neurologia
pediátrica e doenças infecciosas, de modo que concentra grande parte dos cuidados
e hospitalizações por meningite na região. Este trabalho tem como objetivo delinear
o perfil clínico e vacinal de pacientes internados por meningite, conhecer os agentes
infecciosos mais prevalentes, bem como relacionar sintomas e achados liquoricos
com as chances de complicações e sequelas. Os registros do centro de vigilância
epidemiológica foram consultados e todos os 61 casos de meningite admitidos no
serviço pediátrico durante um período de 24 meses foram posteriormente revisados.
A idade dos pacientes variou de zero a quinze anos. A maioria dos pacientes tinha
entre zero e dois anos de idade, sendo metade deles prematuros. A taxa de
pacientes com um status de vacinação desconhecido foi de 41% e a taxa de não
isolamento do germe foi superior a 70% dos casos de meningite bacteriana, 64%
dos pacientes com meningite bacteriana estavam em uso de antibióticos por mais de
24 horas no momento da coleta do LCR, e em apenas cerca de 20% dos pacientes
havia sido solicitado teste de aglutinação do látex. No entanto, o uso de
antimicrobianos prévio a coleta parece não ter influenciado na possibilidade de
identificação de germe. Os achados clínicos variaram significativamente conforme os
grupos etários, a tríade clássica de vômitos, febre e cefaleia predominou no grupo
dos adolescentes e escolares, enquanto as convulsões estiveram presentes
principalmente no grupo dos lactentes. No grupo dos neonatos predominou a
irritabilidade extrema como manifestação clínica principal. Observou-se associação
significativa entre presença de convulsões no momento do diagnóstico e sequela de
epilepsia, após o término do tratamento. Da mesma forma, convulsões e alteração
do estado mental, na admissão, se associaram com complicações, durante o
tratamento, assim como proteinoraquia elevada, no exame do líquor. O presente
estudo revelou uma subnotificação do status vacinal dos pacientes, assim como uma
baixa porcentagem de isolamento de germe na meningite bacteriana, chamando a
atenção para a necessidade de maior agilidade nas coletas, melhor uso dos
recursos diagnósticos disponíveis e uso indiscriminado de antibióticos.
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