Muito além do autoconsumo: as doações e transferências de alimentos nos assentamentos rurais do RS
Fecha
2021-08-24Primeiro coorientador
Zarnott, Alisson Vicente
Primeiro membro da banca
Grisa, Catia
Segundo membro da banca
Dorigon, Clóvis
Terceiro membro da banca
Brandão, Janaína Balk
Quarto membro da banca
Menasche, Renata
Metadatos
Mostrar el registro completo del ítemResumen
O modelo econômico atual está embasado no sistema autorregulado de mercado. O mecanismo predominante é de trocas comerciais, muitas vezes secundarizando e invisibilizando outras formas econômicas como a reciprocidade, dádiva e redistribuição, coexistentes no campesinato. Esta tese objetivou analisar o autoconsumo, as transferências e doações de alimentos, bem como suas finalidades e importância socioeconômica no contexto de assentamentos rurais do Rio Grande do Sul, Brasil. A revisão bibliográfica alinhou-se a uma perspectiva Polanyiana, sobre os sistemas econômicos que apontam a reciprocidade e a dádiva como formas econômicas alternativas e coexistentes com o sistema de trocas mercantis. O estudo, contou com métodos mistos de pesquisa e análise predominantemente qualitativas, utilizando-se da pesquisa exploratória, survey e observação direta. O levantamento de dados empíricos ocorreu entre os meses de maio a dezembro de 2019, em três assentamentos, sendo: Itapuí/Meridional, Conquista do Imigrante e Ceres, com um total de sessenta e cinco pessoas entrevistadas. Através de análise de dados do Censo Agropecuário (2017), verificou-se que 40% do total de estabelecimentos rurais do país têm como finalidade principal o consumo próprio e de pessoas com laços de parentesco com o produtor. Os dados empíricos apontaram que 100% das famílias entrevistadas produzem para o autoconsumo, onde os valores médios mais elevados encontram-se naquelas cuja fonte econômica principal é a atividade leiteira, com valor superior a 15 mil reais anuais, equivalente a 15 salários mínimos anuais. Também, verificou-se que mais de 50% das famílias entrevistadas possuem filhos residindo na cidade e que se abastecem de alimentos junto aos pais assentados, onde as transferências e doações de alimentos fizeram-se presentes em maior ou menor grau para 88% dos entrevistados, sendo que para 60% deles é uma prática frequente. Dentre os alimentos mais transferidos ou doados estão aqueles abundantes na unidade de produção, destacando-se os de origem animal, sobretudo as carnes. Com relação aos valores transferidos ou doados, verifica-se que as médias mais altas estão nas famílias que têm a atividade leiteira e a aposentadoria como principal fonte econômica, com média de R$ 340,00 reais mensais, o equivalente a 0,34 salários mínimos mensais. Os aposentados são os que mais transferem ou doam alimentos, com média 33% do total produzido para o autoconsumo. Em termos regionais, os valores médios transferidos e doados representaram 0,28 salários mínimos mensais no Itapuí/Meridional, 0,21 salários mínimos mensais no Ceres e, 0,19 salários mínimos mensais no Conquista do Imigrante. Por fim, constata-se que nos assentamentos com maior tempo de criação, mais atenção é dada à produção de alimentos para o autoconsumo e consequentemente são maiores os volumes e a frequência de transferências e doações destes. Neste sentido, a produção de autoconsumo, as transferências e doações de alimentos revelam-se importantes no contexto econômico e social da família assentada e para outras pessoas no entorno, sejam eles familiares ou não, mas que se unem entorno de uma economia não mercantil movida pela dádiva e reciprocidade ainda presente nos dias atuais.
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