Alterações comportamentais e neuroquímicas causadas por compostos orgânicos de selênio
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Data
2006-11-22Primeiro membro da banca
Gonçalves, Carlos Alberto Saraiva
Segundo membro da banca
Wofchuk, Susana Tchernin
Terceiro membro da banca
Soares, Félix Antunes
Quarto membro da banca
Farina, Marcelo
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Os compostos orgânicos de selênio, ebselen e disseleneto de difenila (PhSe)2, são considerados como miméticos da enzima glutationa peroxidase e apresentam propriedades antioxidantes e antiinflamatórias em diversos modelos de injúria celular. Tendo presente que as ações farmacológicas do (PhSe)2 parecem ser mais proeminentes do que seu análogo ebselen, o presente estudo foi delineado para avaliar o efeito deste composto na morte celular e na detecção do imunoconteúdo da enzima oxido nítrico sintase induzível em um modelo de deprivação de glicose e oxigênio em fatias de hipocampo de ratos. Observamos que a ação neuroprotetora do composto (PhSe)2 foi correlacionada com a supressão do imunoconteúdo da enzima oxido nítrico sintase induzível, visto que as concentrações do composto que apresentaram proteção contra a morte celular, também suprimiram o aumento do imunoconteúdo desta enzima. A ação neuroprotetora do (PhSe)2 foi dose dependente e mais pronunciada do que previamente descrito para o ebselen. Visto que ambos os compostos ebselen e (PhSe)2, são capazes de modular parâmetros da sinapse glutamatérgica in vivo e in vitro, e que o composto ebselen apresentou efeito neuroprotetor em um modelo de toxicidade provocada pelo glutamato seguido de redução na peroxidação de lipídeos, avaliamos também, neste trabalho, o efeito destes compostos no aumento da atividade de ectonucleotidases pelo glutamato em culturas de neurônios cerebelares de ratos. Foi observado que os compostos de selênio não alteram a atividade de ectonucleotidases, mas previnem a estimulação na hidrólise de ATP e AMP pelo glutamato. Na tentativa de correlacionar o efeito preventivo dos compostos com sua atividade antioxidante, comparou-se o efeito do trolox, um antioxidante clássico descrito na literatura. O trolox de maneira similar aos compostos de selênio também preveniu o aumento na atividade das ectonucleotidases pelo glutamato. Embora o glutamato não tenha desencadeado morte celular 24 horas após a prévia exposição das células a este aminoácido, sugeriu-se que parte da ação do ebselen e (PhSe)2 podem estar relacionadas com suas propriedades antioxidantes. Inferiu-se ainda que a participação de grupos sulfidrila nos efeitos dos compostos de selênio parece estar envolvida nos seus efeitos neuroprotetores, uma vez que tanto o aumento na hidrólise dos nucleotídeos quando a morte neuronal pelo agente alquilante N-ethylmaleimide (NEM) foram prevenidas tanto pelo ebselen quanto pelo (PhSe)2. A co-incubação de NEM e glutamato não modifica o perfil de morte neuronal e a estimulação da hidrólise de nucleotídeos, com o ebselen e (PhSe)2 revertendo parcialmente o aumento da hidrólise para o ATP e a morte celular. Entretanto, ambos compostos foram ineficazes em reverter o aumento na hidrólise do AMP causado pela co-incubação do NEM e glutamato. Portanto, apesar de ambos compostos prevenirem parcialmente a morte celular evidenciada por estes dois agentes citotóxicos co-incubados, a ação do ebselen e (PhSe)2 parece modular diferentemente estas enzimas. Por meio de estudos comportamentais com a administração intraperitoneal de (PhSe)2, observamos que este composto não alterou a atividade exploratória dos animais quando avaliados na tarefa do campo aberto. Porém, nesta tarefa, os animais administrados com 50 μmol/kg de (PhSe)2 apresentaram uma diminuição no número de defecações, um comportamento que
corresponde a um primeiro índice de ansiedade intrínseca diminuída dos animais quando expostos a um ambiente novo. A partir dessa observação, essa dose mais alta não foi utilizada para os experimentos onde se avalia a consolidação da memória nos animais. Na tarefa de esquiva inibitória houve uma diminuição no desempenho dos animais tratados com 25 μmol/kg de (PhSe)2 apenas para a consolidação da memória de curta duração, pois esse efeito supostamente amnésico não foi observado na consolidação da memória de longa duração. Apesar dos resultados encontrados na tarefa da esquiva inibitória, os mecanismos envolvidos no efeito amnésico do (PhSe)2 não foram explorados. A partir da diminuição do número de defecações na arena de campo aberto, os animais foram tratados com 50 μmol/kg de (PhSe)2 e submetidos a tarefa do labirinto em cruz elevado (Plus Maze), para melhor caracterizar um possível efeito ansiolítico. Foi possível claramente observar que os animais tratados com a dose de 50 μmol/kg, apresentaram um comportamento menos ansioso pela maior permanência nos braços abertos e pelo aumento no número de entradas nestes braços. Esse efeito foi semelhante ao observado com fármacos que classicamente possuem ação ansiolítica como o diazepam. Assim, investigou-se a participação de outros sistemas de neurotransmissores nos efeitos ansiolíticos do (PhSe)2 pela administração de agonistas e antagonistas do sistema GABAérgico e serotoninérgico. Uma vez que antagonistas para receptores GABAA e 5-HT2A/C reverteram a ação ansiolítica do (PhSe)2, sugerimos que ambos sistemas de neurotransmissores classicamente envolvidos no comportamento ansiolítico/ansiogênico participam do efeito ansiolítico deste composto.
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