Significações sobre o uso de metilfenidato entre estudantes universitários: um estudo de caso
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Data
2023-02-03Primeiro membro da banca
Bock, Ana Mercês Bahia
Segundo membro da banca
Caliman, Luciana Vieira
Metadata
Mostrar registro completoResumo
O metilfenidato trata-se de um fármaco estimulante no sistema nervoso central,
comercializado no Brasil como Ritalina, Ritalina LA e Concerta. Esse medicamento é
indicado, principalmente, para pessoas diagnosticadas com Transtorno de Déficit de
Atenção (TDAH) e Narcolepsia. O metilfenidato também tem sido utilizado por pessoas que
não tem ou não se identificam com qualquer diagnóstico, com a finalidade de aumentar o
foco atencional e a capacidade produtiva diante de prazos e metas no estudo e no trabalho.
Esse uso é denominado de aprimoramento cognitivo farmacológico e não é legalmente
autorizado. Entende-se que o fenômeno do uso de metilfenidato, tanto prescrito por médicos
para tratamento do TDAH, como não prescrito e para aprimoramento cognitivo, compõem o
processo de medicalização da vida e sociedade. A medicalização descreve um processo em
que problemas não médicos tornam-se definidos e tratados como problemas médicos.
Estudos têm indicado um crescente uso de metilfenidato entre estudantes universitários, que
o fazem tendo em vista um melhor desempenho acadêmico. Desse modo, a partir dos
pressupostos teóricos e metodológicos da Psicologia Histórico-Cultural e da Psicologia
Sócio-Histórica, objetivou-se apreender os significados e os sentidos do uso do
metilfenidato entre estudantes universitários, a fim de compreender os aspectos singulares,
históricos e sociais desse fenômeno. Esta pesquisa tem caráter qualitativo, e teve como
instrumentos a entrevista, o complemento de frases e o diário de campo. Trata-se de um
estudo de caso, de um estudante do curso de Medicina, diagnosticado com TDAH e usuário
de metilfenidato há cerca de 10 anos. A análise foi feita a partir dos núcleos de significação
e as discussões foram articuladas através dos seguintes núcleos: Do Ensino Fundamental ao
Ensino Superior: modelo passivo-reprodutivo como promotor das dificuldades no processo
de escolarização; Entre o atendimento queixa-conduta e a escuta interessada: a relação
médico-paciente pautada na medicamentalização; "É algo que já vem dentro de ti": etiologia
do TDAH e vivência a partir do diagnóstico; A propaganda e a expansão do diagnóstico de
TDAH e do uso de Metilfenidato; O milagre da Ritalina, seus usos e malefícios no curto e
longo prazo ; “O meio te obriga”: aspectos culturais e sociais que levam ao uso de
metilfenidato; Pandemia de COVID-19 e o Ensino Remoto no Ensino Superior.
Compreende-se que o uso metilfenidato promove a solução de um problema experienciado
em nível individual - o sofrimento decorrente da dificuldade de atender às exigências
sociais, assim como, soluciona o problema do sistema - manter as engrenagens que o
sustentam funcionando, através de sujeitos produtivos, que compreendem o seu sofrimento a
partir do modelo biológico e dos valores neoliberais. Entende-se que a presente pesquisa
contribui para o debate acerca da medicalização pois desvela as mediações que constituem
as significações do participante acerca do metilfenidato e traz elementos explicativos da
realidade concreta.
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