O comprometimento como característica e potência no jornalismo narrativo de Callado, García Márquez, Walsh e Poniatowska: leituras de um movimento próprio da América Latina
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Data
2020-06-30Primeiro membro da banca
Maciel, Alexandre
Segundo membro da banca
Storch, Laura Strelow
Metadata
Mostrar registro completoResumo
A dissertação aproxima a perspectiva da Alteridade (BAKHTIN, 2009) no jornalismo, pelo viés da Outridade
(FREITAS; BENETTI, 2017), ao conceito de Comprometimento (AMAR SÁNCHEZ, 1986) dentro dos
livros-reportagem do brasileiro Antônio Callado, do colombiano Gabriel García Márquez, do argentino Rodolfo
Walsh e da mexicana Elena Poniatowska, propondo uma reflexão acerca do jornalismo narrativo desenvolvido
por eles no cenário latino-americano entre os anos 1950 e 1960. A narrativa jornalística é vista como
possibilidade de mudança social ao convidar para a reflexão sobre o reconhecimento do Outro e como esse gesto
afeta o narrar. A inquietação diante do silenciamento do Outro e a percepção das injustiças sociais, fez com que
esses jornalistas experimentassem um modo específico de olhar e relatar. A pesquisa está amparada na leitura
narrativa dos livros: Esqueleto na lagoa verde (CALLADO, 2010); Relato de un náufrago (GARCÍA
MÁRQUEZ, 2016); Operación masacre (WALSH, 2010); e Hasta no verte Jesús mío (PONIATOWSKA,
2013). Portanto, considerando o jornalismo e a literatura em sua expressão híbrida, partindo da América Latina
como cenário, e sugerindo o Comprometimento como característica potencializadora, foi estabelecido o
problema de pesquisa: Como Callado, García Márquez, Walsh e Poniatowska contribuem para a identificação de
um fazer jornalístico narrativo próprio da América Latina? Ele se desdobra em um objetivo geral: analisar a
prática do jornalismo narrativo nas obras e discutir semelhanças e particularidades entre a postura desses
jornalistas. Além dos objetivos específicos: (1) Identificar estratégias narrativas em comum e especificidades nas
obras; (2) Discutir a relevância da atuação deles para o desenvolvimento da literatura de não-ficção na América
Latina; e, (3) Trabalhar os conceitos de Polifonia, Alteridade e Comprometimento associados ao jornalismo
narrativo. Os procedimentos incluíram revisão bibliográfica e análise narrativa – valendo-se do método
Comparatismo periodístico-literario (CHILLÓN, 1999) –, com base no Comprometimento e na Outridade, de
recortes exemplares das obras, que servem como objeto de análise, em que se sobressai o fazer jornalístico
baseado no compromisso com o Outro, utilizando ferramentas da narrativa literária para a representação de
sujeitos marginalizados e a interação dos jornalistas com eles. Com a análise e comparação foi possível concluir
que além de ouvir o Outro, interpretá-lo e compartilhar suas experiências, esses jornalistas foram mais longe ao
provocar a reflexão sobre os acontecimentos narrados, suas causas e consequências sociais, e ainda, o papel do
jornalista enquanto aquele que expõe injustiças. Os quatro questionam em suas obras como nos portamos diante
desses Outros, que espaço social lhes é garantido, e o que cabe a cada um de nós para mudar essa realidade
intolerante. Os jornalistas antecipam as respostas: foi imposto aos índios a margem histórica; à liberdade de
expressão o limite; aos que se posicionam politicamente diferente a hostilidade; e às mulheres a desigualdade. O
compromisso não se dá ao dizer o que já sabemos, mas sim ao questionar, ao provocar a inquietude, ao nos fazer
pensar nossas ações e posições diante desses Outros, indicando um importante traço nas produções
latino-americanas.
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