O essencial não é tão invisível aos olhos: as representações em “Perdoando Deus”, de Clarice Lispector, sob a ótica da linguística sistêmico-funcional
Resumen
Para Halliday e Matthiessen (2014), a metafunção ideacional da linguagem consiste em
representar a experiência humana através do sistema de transitividade. A representação é um
modo de simbolizar o mundo por meio da linguagem, e o texto literário é um caso particular,
porque um signo verbal pode constituir mais de uma significação, de modo que existam
significados de primeira e de segunda ordem (HASAN, 1989). Levando esses pressupostos em
consideração, este trabalho teve como objeto de estudo o conto “Perdoando Deus”, de Clarice
Lispector, e buscou responder às seguintes questões: (i) Que representações a narradora constrói
para Deus e para si mesma?; (ii) De que modo essas representações relacionam-se? Para tanto,
recursos do WordSmith Tools 6.0 (SCOTT, 2012) e análise manual serviram à seleção das
orações que compuseram o corpus (241 orações), que foi submetido à categorização de
processos e participantes e à interpretação das representações evidenciadas. A análise
demonstrou que estas transformam-se ao longo do texto, consequência do aparecimento de um
rato morto. Ele muda a percepção da narradora em relação a Deus e ao mundo, cujas
representações são reconhecidas como uma idealizações da narradora. Com ela, acontece o
mesmo, pois, a partir da visão grotesca do rato, percebe em si mesma um lado ruim, com o qual
não queria se deparar. Nesse sentido, o essencial não é tão invisível aos olhos, porque, segundo
o que eles revelam, é possível chegar às conclusões mais verdadeiras, como aconteceu com a
personagem.