De tirano a vítima: o conflito da legitimidade monárquica em Ricardo II e a inversão da percepção sobre o rei
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Date
2022-06-28Primeiro membro da banca
Maggio, Sandra Sirangelo
Segundo membro da banca
Closel, Régis Augustus Bars
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Essa pesquisa busca aprofundar a compreensão da tirania do personagem Richard
II, em como o autor produz o efeito de torná-lo um tirano, e como, ao longo da peça,
ocorre uma inversão nessa percepção, tornando-o uma vítima, sendo possível interpretálo
como mártir. Organizamos a pesquisa na ordem cronológica da própria peça,
analisando primeiramente a formalidade de Richard II, e como ele usa e depende do
protocolo para representar e demonstrar seu poder régio. A pesquisa, então, contextualiza
o entendimento renascentista inglês acerca do poder da autoridade, do Direito Divino e
das concepções de ordem no universo elizabetano, o contexto no qual Shakespeare
cresceu e produziu suas peças, assim como a forma que essas ideologias são apresentadas
na própria peça. Com esses dados em mãos, prosseguimos para a análise mais minuciosa
dos personagens e circunstâncias, primeiramente como Richard é compreendido como e
demonstrado ser um autocrata, um tirano regrado pela própria arbitrariedade. O
desenvolvimento dessa caracterização permite-nos identificar as marcas linguísticas no
discurso dos personagens que elucidam diferentes formas de particularização do poder da
monarquia, sua autoridade e seus limites, e como Richard atravessa esses limites, levando
a seu declínio. Imediatamente, identificamos o descontrole do personagem, espiralando
em um desespero pela perda de sua autoridade, mas uma crescente autoafirmação de sua
autoridade como fruto do desígnio sobrenatural. Analisamos, finalmente, a cena da
deposição, e como Richard mostra estar ciente de todas as nuances da política, que antes
ignorara, e as usa discursivamente contra seus rivais, apontando neles uma aparente
hipocrisia, interesses velados. Seu cárcere revela então uma crescente vitimização do
personagem, forçosamente separado de sua família e de todos, ele vê em seus rivais a
ambição e a ganância, profetizando divisões futuras, ao mesmo tempo que ele reconhece
em si a autoridade da providência divina, e removendo de si os rastros de incerteza e
dúvida que o tornavam indeciso, e morre lutando uma última vez lutando por si, por sua
coroa e pelo que representa. Concluímos a pesquisa trazendo os elementos principais da
análise e da forma como a peça representa a autoridade, a vilania, como Shakespeare
constrói um universo onde não há alguém plenamente certo ou errado, e todos são
influenciados por interesses verdadeiramente humanos, encerrando com possibilidade
possível de pesquisa futura.
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