Toda trabalhada na wi-fi: cotidiano travesti em trajetórias digitais
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Date
2019-05-31Primeiro membro da banca
Rosário, Nísia Martins do
Segundo membro da banca
Silva, Márcia Veiga da
Terceiro membro da banca
Leitão, Débora Krischke
Quarto membro da banca
Cedillo, Rosa Maria Blanca
Metadata
Show full item recordAbstract
Este estudo tem por objetivo investigar as formas com que a internet é apropriada no cotidiano travesti através do mapeio e da observação das trajetórias digitais das interlocutoras da pesquisa. O desenvolvimento da pesquisa é ancorado em uma perspectiva etnográfica, considerando as possibilidades de diálogo entre as áreas da comunicação e da antropologia, refletindo a respeito das práticas de consumo das mídias digitais, em especial do site de rede social Facebook, mas também de outros aplicativos utilizados por elas, atentando aos trânsitos e às transgressões estabelecidas com as demais dimensões da vida social. O trabalho de campo foi mobilizado pela observação participante em encontros de curta duração ou de duração intercalada (devido ao regime de temporadas que caracteriza as rotinas de algumas delas que, em razão do trabalho na prostituição, deslocam-se de forma constante entre diversas cidades) e pela observação participante junto a algumas interlocutoras residentes na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Partindo de um enfoque teórico-conceitual a respeito do consumo das mídias digitais, a pesquisa identifica e interpreta alguns gêneros culturais da utilização da internet e das formas com que as mídias digitais interatuam na elaboração das experiências socioculturais e sociocorporificadas do cotidiano travesti. A pesquisa entende que o Facebook, assim como outros sites de redes sociais e aplicativos, possui determinadas configurações e regramentos que ora permitem e potencializam determinadas ações, ora impõem constrangimentos uma vez que suas ações são organizadas em um modelo pré-formulado de disposições. Além disso, os contextos de interação observados são demarcados pela precariedade e vulnerabilidade social, bem como por diferentes manifestações da violência e da transfobia que se expressam a partir regulações das normas cisgêneras e heterossexuais vigentes na sociedade. No entanto, os gêneros culturais observados apontam para um trabalho de inventividade que elabora tanto rupturas a respeito dos regramentos sociais mais hegemônicos quanto formas de disputar os sentidos pelos quais suas vivências são interpretadas. Da mesma forma, a pesquisa aponta diferentes práticas que se estabelecem a partir das redes digitais, que incidem sobre as formas de manejo e organização das sociabilidades, sobre as dinâmicas e interações que são singularizadas pelo trabalho na prostituição e pela economia das trocas eróticas e do desejo e sobre as vivências religiosas articuladas na interface com as tecnologias digitais. A pesquisa conclui que a utilização de sites de redes sociais digitais e demais aplicativos que constituem as trajetórias digitais das interlocutoras são organizados por diferentes regimes em que as fronteiras entre as dimensões públicas e privadas da vida social acabam sendo negociadas, bem como indica como a intimidade é tensionada tanto como sendo um elemento dissidente das normas sociais, quanto impulsionado pelas disposições que buscam a ordenação de suas realidades.
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