(Re)figurações de Iara: investigando o medo e o fascínio pelas sereias da antiguidade ao fantasismo
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Data
2024-02-16Primeiro membro da banca
Werlang, Gerson Luis
Segundo membro da banca
Felipe, Renata Farias de
Terceiro membro da banca
Silva, Alexander Meireles da
Quarto membro da banca
Matangrano, Bruno Anselmi
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Há pelo menos dois séculos a personagem Iara ou Mãe D’água, também chamada pelo vulgo de “sereia brasileira”, vem desfilando sua beleza e seus horrores nos textos de autores da nossa literatura como um dos mais significantes fatos emprestados do folclore brasileiro. Sabe-se que ela toma forma a partir do encontro da imaginação da tradição de nossos colonizadores com a de povos daqui originários, tendo, então, na literatura oral o que se poderia chamar de uma representação original. Se considerarmos, a partir de Reis (2018), que a figuração é a representação primária de uma determinada personagem e a refiguração um modo de reimaginar essa personagem em novas e diferentes narrativas, o objetivo desta pesquisa foi investigar as diferentes refigurações da personagem Iara ou Mãe D’água, do Romantismo ao movimento contemporâneo de produção e defesa de uma literatura fantástica brasileira chamado Fantasismo, para compreender as permanências e diferenças entre elas. Não foi possível fazer esse movimento sem pensar sobre as possíveis influências que Iara ou Mãe D’água tenha herdado de seres correlatos de outras tradições, como as sereias atlânticas e as sirenas homéricas ou sirenas. Portanto, metodologicamente parto de textos da Antiguidade Clássica, como a Odisseia e as Argonáuticas, para compreender quem eram as sirenas, ou sereias homéricas; exploro bestiários medievais e textos dos séculos XVII e XVIII para entender como se configuraram as sereias atlânticas na literatura da época; revisito a obra de Câmara Cascudo, importante folclorista brasileiro, para tentar dar forma à Iara ou Mãe D’água na nossa cultura; observo autores do Romantismo e do Modernismo, como José de Alencar e Monteiro Lobato, no intuito de entender como contribuíram para a afirmação da personagem em nossa imaginação; e, por fim, apresento uma leitura interpretativa de três obras de literatura fantástica contemporânea – Sete Monstros Brasileiros, de Bráulio Tavares, A Bandeira do Elefante e da Arara, de Christopher Kastensmidt, e O Legado Folclórico, de Felipe Castilho – ao dedicar atenção a como reimaginam Iara ou Mãe D’água em contextos de produção que muito se diferenciam dos primeiros em que apareceu. Com base nas averiguações resultantes em torno do caso estudado, defendo a tese de que a literatura fantástica contemporânea brasileira, ao refigurar Iara, dá continuidade a um processo muito antigo que está no cerne da própria origem da personagem, o da adaptação de um muito antigo argumento, o da mulher-monstro das águas, a novos contextos e novas narrativas, criando também suas próprias variações da figura mítica ao corporificar novas versões da sereia brasileira com inspiração em gêneros narrativos dos tempos atuais. Entende-se, assim, Iara ou Mãe D’água como a forma particular que a imaginação brasileira deu, a partir de referentes externos, para o medo atemporal da insurreição feminina contra o poderio masculino e do apelo ao desejo heterossexual como arma para isso; bem como a literatura escrita nacional o veículo responsável por oferecer corpo a essa personagem na nossa cultura e novo fôlego na contemporaneidade.
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