Entre o trote dos cavalos e o ronco dos motores: os trabalhadores do setor de transportes urbanos de Santa Maria no pós-abolição (1898 – 1937)
View/ Open
Date
2024-03-26Primeiro coorientador
Grigio, Ênio
Primeiro membro da banca
Flores, Mariana Flores da Cunha Thompson
Segundo membro da banca
Moreira, Paulo Roberto Staudt
Metadata
Show full item recordAbstract
O presente trabalho tem como objetivo estudar as experiências dos carroceiros, boleeiros e chauffeurs de Santa Maria durante a Primeira República, interseccionando as categorias raça e classe social, além de compreender a constituição do setor de transportes urbanos naquele período. Problematizamos o pós-Abolição, tendo como ponto partida as trajetórias dos trabalhadores negros. Observamos a agência daqueles sujeitos, muitos egressos da escravidão e outros descendentes de ex-escravizados, que buscaram em Santa Maria melhores condições de trabalho e existência, num contexto marcado pela precariedade e o racismo, que surge como um problema histórico. Investigamos também os conflitos, solidariedades e a organização entre aqueles trabalhadores, o que despertou a nossa atenção aos diferentes tipos de agremiações associativas em que aqueles sujeitos estiveram envolvidos – tanto organizações de classe, como associações negras da cidade. Utilizamos como fontes os livros de matrículas dos carroceiros, boleeiros e chauffeurs de Santa Maria, entre os anos de 1924 a 1928; processos criminais, habilitações de casamento e demais registros civis, além de jornais e a documentação da Intendência Municipal, que foram analisados partindo de diferentes abordagens metodológicas como a microanálise de base serial e a micro-história. As articulações entre os transportadores de Santa Maria, muitos deles negros, abrem margem para refletirmos sobre um problema da historiografia do trabalho no Brasil, que é a existência de um “muro historiográfico” que impede o diálogo entre a História do Trabalho e a História da Escravidão e do Pós-Abolição – muro que tem sido ultrapassado nos últimos anos, através de uma historiografia cada vez mais comprometida em entender as experiências negras nos mundos do trabalho. Trabalhadores negros não desapareceram com o assinar da lei áurea, muito menos foram “substituídos” por imigrantes europeus. Os processos desencadeados nas últimas décadas do século XIX possibilitaram um número sem fim de estratégias adotadas pela população negra do Brasil, denotando as visões da liberdade, expectativas, frustrações, enfim, as experiências dos agentes sociais, dentre eles os carroceiros, boleeiros e chauffeurs de Santa Maria que figurarão nas páginas a seguir.
Collections
The following license files are associated with this item: