Cannabis e anestesiologia veterinária: uma revisão bibliográfica
Resumo
Cannabis sativa L., conhecida popularmente como maconha, produz mais de 500 compostos, incluindo fitocanabinoides, flavonoides, terpenos e ácidos graxos. O uso medicinal da Cannabis foi reconhecido em 2.700 a.C. em várias culturas. Seus primeiros usos incluíam efeitos analgésicos, anticonvulsivantes, anti-inflamatórios e antibióticos. A sua proibição, no entanto, apesar de evidências dos seus benefícios, tornou a pesquisa um desafio devido à burocracia e questões legais. Os canabinoides são classificados em fitocanabinoides, endocanabinoides e canabinoides sintéticos. Os fitocanabinoides mais pesquisados são o CBD, uma molécula minimamente psicoativa e de efeitos terapêuticos, e o THC, de efeitos psicoativos. Estudos na década de 80 levaram à descoberta do sistema endocanabinoide (SEC). Esse sistema integra receptores canabinoides, seus ligantes e enzimas, e desde então tem sido alvo de pesquisas por demonstrar um papel importante na homeostasia devido à ampla distribuição de seus receptores pelo organismo. Os receptores CB1 e CB2 são expressos principalmente no sistema nervoso central e no sistema imunológico, respectivamente. Endocanabinoides, como o 2-AG e a AEA, são moléculas lipofílicas que se ligam a esses receptores, regulando várias funções fisiológicas. O uso de Cannabis em animais tem uma longa história, no entanto a pesquisa veterinária é limitada devido a restrições legais. A Cannabis é mais comumente usada para tratar a dor da osteoartrite e como anticonvulsivante na epilepsia. Além disso, estudos sugerem que a Cannabis pode ser útil como agente antitumoral, ansiolítico, anti-inflamatório e antiemético. Os canabinoides, usados para complementar analgésicos convencionais, são eficazes no tratamento de dores agudas, crônicas e neuropáticas. Eles atuam na via nociceptiva, em uma abordagem multimodal, e são vantajosos por atuarem tanto na percepção quanto na modulação da dor. Há ainda poucos estudos que relacionam a Cannabis dentro de um contexto voltado para anestesiologistas veterinários. Entretanto, sabe-se que o sistema endocanabinoide e drogas usadas na rotina anestésica compartilham mecanismos de ação. Sabe-se que uso da Cannabis como medicação pré-anestésica de cães diminui o requerimento de propofol e o tempo necessário para alcançar plano anestésico. Tutores têm demonstrado cada vez mais interesse em explorar o uso terapêutico de produtos de Cannabis para seus pets. A Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade contra os Animais (ASPCA) tem registrado um crescimento na exposição inadvertida de pequenos animais à Cannabis, sobretudo por consumirem alimentos que possuem THC, tais como brownies e biscoitos. A razão para tal incremento ainda permanece incerta, sendo a resolução para quadros de intoxicação o tratamento suporte. Diante do grande potencial da Cannabis na medicina e dos desafios existentes pela ausência de estudos, o objetivo dessa revisão é demonstrar os potenciais usos e benefícios da Cannabis dentro da medicina veterinária e fomentar o interesse nas pesquisas envolvendo os componentes da planta e a anestesiologia veterinária.
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: