Comunidade de formigas (Hymenoptera: Formicidae) de áreas urbanas da região oeste de Santa Catarina, Brasil
Abstract
O processo de urbanização vem sendo tratado como uma das maiores ameaças à biodiversidade e, dentre os organismos encontrados em áreas urbanas, as formigas representam um grupo importante, porém ainda pouco estudado comparado a outros insetos. Conhecer a riqueza e a composição da mirmecofauna que habita áreas urbanas e os fatores que estão exercendo pressão sobre essas comunidades são imperativos para a elaboração de planos de manejo e conservação. Este estudo apresenta um inventário da mirmecofauna encontrada em dez áreas urbanas inseridas no sul do bioma Mata Atlântica e descreve as alterações da riqueza, abundância e composição de espécies entre quatro tipos de ambiente ao longo de um gradiente de intensificação de atividades antrópicas. Apresenta também informações sobre a influência temporal e microclimática (luminosidade, temperatura, umidade relativa e velocidade do vento) sobre as assembleias de formigas. As amostragens foram conduzidas em fragmentos florestais, áreas verdes, escolas e centros de reciclagem. Foram realizadas duas séries completas de amostragens durante o ano de 2011, uma no verão (fevereiro e março) e outra na primavera (outubro e novembro). Como técnicas de amostragem, foram utilizadas iscas de sardinha, iscas de glicose e coleta manual. As assembleias de formigas de cada cidade foram avaliadas e comparadas por meio de análise de rarefação e estimativas de riqueza. A estrutura da comunidade de formigas foi descrita a partir de um teste de aninhamento (NODF) e de uma Análise de Espécies Indicadoras (ISA). O efeito temporal sobre a abundância e a composição das assembleias foi verificado através de uma ordenação NMDS (Non-metric Multidimensional Scaling). Análises de Correspondência Canônica (CCA) foram utilizadas para determinar o efeito microclimático sobre as assembleias. Foram registradas 8.790 ocorrências de formigas, tendo sido identificadas 140 espécies, representantes de 37 gêneros, 19 tribos e nove subfamílias. Três dessas espécies, Gnamptogenys sulcata (Smith, 1858), Camponotus personatus Emery, 1894 e Solenopsis invicta Buren, 1972 foram registradas pela primeira vez no estado de Santa Catarina. Nove cidades apresentaram espécies exclusivas mostrando variação na composição das espécies de uma cidade para outra. Observou-se um padrão de aninhamento ao longo do gradiente avaliado, ou seja, as assembleias pertencentes aos ambientes sob maior pressão antrópica são subconjuntos da mirmecofauna dos ambientes mais conservados. Os fragmentos florestais apresentaram o maior número de espécies indicadoras (12), seguido pelas áreas verdes (4) e escolas (3). A amostragem realizada na primavera (outubro e novembro) resultou em uma riqueza 20% maior (S=132) comparada à amostragem realizada no verão (fevereiro e março) (S=104). A luminosidade e a umidade relativa foram as variáveis microclimáticas mais predominantes com influência sobre as assembleias de formigas nos três tipos de ambientes e nos dois períodos amostrais. Os resultados deste trabalho ampliam o entendimento sobre os fatores que regulam as atividades das formigas em ambientes de áreas urbanas e oferecem subsídios para a implementação de políticas de desenvolvimento urbano e para a elaboração de planos de conservação.