Dejetos de suínos: produção de culturas, efeitos na matéria orgânica e na transferência de formas de fósforo
Abstract
A suinocultura é uma atividade amplamente desenvolvida na Região Sul do Brasil que gera grandes
volumes de dejetos, os quais são, normalmente, utilizados como fontes de nutrientes em culturas de grãos e
pastagens. Entretanto, sucessivas aplicações de dejetos podem provocar alterações na concentração de nutrientes
no solo, alterar a dinâmica na matéria orgânica do solo (MOS) e potencializar a transferência de fósforo para
ambientes aquáticos. O presente estudo objetivou avaliar a interferência de aplicações sucessivas de dejeto de
suínos sobre a produção e acúmulo de nutrientes em culturas, alterações na composição química e na distribuição
das frações físicas e químicas da matéria orgânica do solo e sobre a transferência de formas de fósforo por
escoamento superficial, em solos subtropicais sob sistema plantio direto. Para isso foram desenvolvidos três
estudos: O Estudo 1 objetivou avaliar como as doses de dejeto, aplicadas ao longo de alguns anos, podem
impactar a produção de grãos, de matéria seca e o acúmulo de nutrientes em culturas de grãos comerciais e em
plantas de cobertura do solo. Este estudo foi composto por um experimento conduzido em Argissolo Vermelho
Distrófico arênico com aplicações das doses de 0, 20, 40 e 80 m3 ha-1 de dejeto líquido de suínos (DLS) antes da
implantação de cada cultura da sucessão: aveia preta/milheto/feijão preto, em 2002/2003; aveia
preta+ervilhaca/milho, nos anos de 2003/2004 e 2004/2005; aveia preta/feijão preto/crotalária, em 2005/2006;
aveia preta/milho/aveia preta, em 2006/2007. Para as culturas de milho e feijão foi avaliada a produtividade de
grãos e, para todas as culturas, foi determinada a produção de matéria seca da parte aérea e o acúmulo de N, P e
K no tecido vegetal. O Estudo 2 objetivou avaliar o impacto de aplicações sucessivas de dejetos de suínos na
forma líquida e na forma de compostagem no estoque de C e na composição química e estrutural das frações
químicas e físicas da MOS em dois ambientes subtropicais, com distintas características texturais. Esse estudo
foi composto por dois experimentos: o experimento 1 foi conduzido em um Argissolo Vermelho Distrófico
arênico que recebeu 19 aplicações das doses de 0, 40 e 80 m3 ha-1 de DLS, num período de 93 meses, e o
experimento 2 foi conduzido em um Latossolo Vermelho Distroférrico típico que recebeu seis aplicações das
doses de 0, 8 e 16 t ha-1 de compostagem de maravalha com DLS, além de um tratamento com adubação mineral,
num período de 71 meses. Nos dois experimentos foi realizada coleta de solo nas profundidades 0-4, 4-8, 8-12,
12-16 e 16-20 cm. Nas amostras de solo foram determinados os teores totais de C, fracionamento físico e
químico da MOS, calculado o estoque de C nas frações físicas e químicas da MOS e a composição química dos
ácidos húmicos. O Estudo 3 objetivou avaliar o acúmulo de fósforo (P) no solo e a transferência de formas de P
por escoamento superficial em um Argissolo sob sistema plantio direto e submetido a sucessivas aplicações de
dejeto líquido de suínos. Para esse estudo foi utilizado o experimento 1 do Estudo 2. Nesse experimento foram
coletadas amostras de solução escoada, sempre que houve precipitação com volume suficiente para provocar
escoamento superficial, e determinado os teores de P-disponível, P-solúvel, P-particulado e P-total. Os resultados
obtidos mostram que as aplicações de dejetos aumentaram a produtividade de grãos e matéria seca pelas culturas
avaliadas, mas para o feijão, a produtividade máxima foi alcançada com a menor dose de DLS, indicando que
para as demais doses, a quantidade de nutrientes aplicada esteve acima da demanda da cultura. As maiores
produções de matéria seca com a aplicação de dejeto promoveram incrementos nos teores de MOS e alteraram a
composição química dos ácidos húmicos, sendo que a incorporação de compostos presentes nos dejetos foi a
principal causa dessas alterações. Além disso, as sucessivas aplicações de dejetos promoveram incrementos nos
teores disponíveis de P no solo, refletindo em maiores transferências de formas de P por escoamento superficial,
obedecendo a seguinte ordem: P-disponível > P-solúvel > P-particulado. Portanto, o manejo dos dejetos no solo
deve obedecer a critérios que possibilitem maximizar o efeito fertilizante e minimizar os impactos ambientais.