Resíduos de poluentes orgânicos persistentes em mel de abelhas: repercussões da contaminação ambiental
Resumo
Os Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) são compostos químicos sintéticos que estão amplamente distribuídos no meio ambiente, acumulam-se nos tecidos lipídicos dos seres vivos, são encontrados em altas concentrações na cadeia alimentar e apresentam efeitos tóxicos aos seres humanos e animais. No presente trabalho, os POPs foram determinados em mel de abelhas de diferentes regiões geográficas, buscando avaliar a qualidade e segurança do mel como alimento, bem como a contaminação ambiental das regiões estudadas. Os praguicidas organoclorados foram analisados em 186 amostras da região Sul do Brasil, com concentrações que variaram entre <LQ e 92 ng g-1. Os praguicidas Endosulfan alfa e Endosulfan sulfato foram os mais frequentes, com média de 1,84 e 1,68 ng g-1, respectivamente. As amostras provenientes de Santa Catarina apresentaram concentrações maiores de Aldrin quando comparadas às provenientes do Rio Grande do Sul e Paraná, enquanto que observou-se uma redução na concentração de Endrin nas amostras coletadas no ano de 2011, quando comparadas com as coletadas em 2010. Com relação à segurança alimentar, 18% das amostras superaram o limite máximo de resíduos permitido pela legislação para os compostos Aldrin, p,p -DDT, Endosulfan alfa, Endrin e Heptacloro, o que pode representar risco à saúde do consumidor. Os PCBs indicadores foram analisados em 137 amostras provenientes dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Os congêneres 28 e 52 foram os mais frequentes, com média de 1,18 e 0,74 ng g-1, respectivamente. As amostras provenientes do estado de São Paulo apresentaram os níveis mais elevados (ΣPCBs 7,52 ng g-1), seguidas das amostras do Paraná (ΣPCBs 5,4 ng g-1), Santa Catarina (ΣPCBs 2,59 ng g-1) e Rio Grande do Sul (ΣPCBs 1,24 ng g-1), com diferença significativa para os PCBs 28 e 52. Não houve diferença entre as concentrações das amostras coletadas nos anos de 2009, 2010 e 2011. DL-PCBs, PCDDs e PCDFs foram analisados em 16 amostras provenientes de quatro estados brasileiros (RS, SC, PR e SP). As concentrações de DL-PCBs variaram entre 24,3 e 260 pg g-1, enquanto que as de PCDD/Fs, entre <LD e 5,4 pg g-1. Os valores de TEQ ficaram entre 0,002 e 0,343 pg WHO-TEQ g-1. Nenhuma diferença significativa foi encontrada entre as concentrações das amostras provenientes dos quatro estados. Retardantes de chama bromados (PBDEs, BTBPE e DBDPE) foram analisados em 35 amostras provenientes do Brasil, Espanha, Portugal, Marrocos e Eslovênia, com concentrações que variaram entre <LD e 24,7 pg g-1. As amostras provenientes do Brasil apresentaram a maior concentração média (5,19 pg g-1), seguidas das provenientes do Marrocos (4,4 pg g-1), Portugal (2,24 pg g-1), Espanha (1,77 pg g-1) e Eslovênia (0,93 pg g-1). O PBDE 47 foi o mais frequente, tendo sido detectado em 91% das amostras analisadas, seguido do PBDE 99, em 63%. Estes compostos foram os que mais contribuíram na concentração total de BFRs nas amostras provenientes da Europa, enquanto que os novos retardantes de chama, BTBPE e DBDPE, tiveram maior contribuição nas amostras do Brasil e Marrocos. Com relação à segurança alimentar, não há limite máximo estabelecido para PCBs, PCDDs, PCDFs e BFRs em mel de abelhas. Embora os níveis detectados destes compostos tenham sido baixos quando comparados a outros alimentos de origem animal, as amostras de mel de abelhas analisadas apresentaram contaminações importantes, demonstrando que as regiões estudadas contêm fontes de contaminação ambiental a serem investigadas.