Caracterização molecular de Echinococcus spp. em bovinos no Rio Grande do Sul e avaliação in vitro e ex vivo do óleo de Melaleuca alternifolia frente aos protoescóleces de Echinococcus ortleppi
Resumo
A equinococose cística (EC) é uma infecção zoonótica causada por parasito do gênero Echinococcus. O estágio larvário (cisto hidático) do parasito causa sérios problemas de saúde pública, além de acometer várias espécies de animais, ocasionando prejuízos econômicos à indústria de carnes. Neste contexto, o objetivo desse estudo foi identificar amostras de cistos hidáticos férteis em bovinos e caracterizá-las molecularmente, além de analisar in vitro e ex vivo a atividade anti-helmíntica do óleo de Melaleuca alternifolia (TTO), bem como sua formulação em nanoemulsão (NE-TTO) e seu componente majoritário (terpinen 4-ol) frente aos protoescóleces de Echinococcus spp. Foram analisadas 2396 amostras de cistos oriundos de bovinos abatidos em frigorífico da região central do RS, onde 295 amostras foram classificadas como cistos hidáticos pela presença de protoescóleces. Nas reações de PCR para o gene 12S, pode-se identificar 251 amostras positivas para o grupamento de genótipos G5/G6/G7 (E. ortleppi/ E. canadensis) e 40 amostras para o genótipo G1 (E. granulosus sensu stricto). Em subsequente PCR foram identificadas 250 amostras positivas para G5 (E. ortleppi) e uma amostra positiva para G7 (E. canadensis). Uma amostragem (n=12) dos produtos de PCR utilizando o gene da região cox I, foi sequenciada e comparada com amostras depositadas no Genbank. A análise filogenética identificou três grupos distintos E1, E2 e E3, onde agruparam-se sequências com maior similaridade. O órgão mais acometido pela parasitose em bovinos foi o pulmão. Após a confirmação da fertilidade do cisto, os protoescóleces foram retirados e avaliados quanto à viabilidade utilizando eosina 0.1%. Para o teste in vitro, concentrações de 2.5, 5 e 10mg/ml de TTO, 10mg/ml de NE-TTO e 1, 1.5 e 2mg/ml de Terpinen 4-ol foram analisadas frente aos protoescóleces de E. ortleppi previamente identificados, nos tempos de 5, 10, 15 e 30 minutos. Para o teste ex vivo, TTO 10mg/ml e 20mg/ml foi injetado diretamente em cistos hidáticos de E. ortleppi (n=20) nos tempos de 5, 15 e 30 minutos, para cada tempo foi retirada uma alíquota de protoescóleces para detecção da viabilidade e realização do PCR para confirmação da espécie envolvida na parasitose. Os resultados deste estudo in vitro indicaram efeito protoescolicida de M. alternifolia em todas as formulações e concentrações testadas. O Terpinen 4-ol (2mg/ml) obteve uma melhor ação quando comparado com a maior concentração testada do óleo puro (TTO 10mg/ml). As formulações em nanoemulsão (10mg/ml) demonstraram atividade frente aos protoescóleces. Na análise ex vivo, TTO (20mg/ml) apresentou 100% de ação protoescolicida no cisto hidático em 15 minutos. O presente estudo torna-se pioneiro no Brasil a identificar o potente efeito protoescolicida de M. alternifolia frente aos protoescóleces de E. ortleppi, sendo essa espécie do gênero Echinococcus a responsável pela maior parte dos cistos hidáticos férteis analisados em bovinos no RS.