Caracterização da respiração oral: avaliação multidisciplinar
Abstract
Na presença de uma obstrução nasal, a permeabilidade pode estar reduzida e a respiração nasal é substituída pela respiração oral (RO). Alterações orofaciais e otorrinolaringológicas são associadas a essa condição, bem como alterações na postura da cabeça, como mecanismo compensatório a redução do fluxo nasal. Algumas características são tipicamente associadas a RO, mas seu diagnóstico ainda permanece controverso. Este estudo foi conduzido para identificar variáveis associadas com o diagnóstico de respiração oral em crianças, baseado nos domínios multidisciplinares. Também se propôs a comparar a permeabilidade nasal e as características orofaciais, fonoaudiológicas e postura craniocervical em crianças. Um total de 133 crianças de seis a 12 anos de idade, de ambos os sexos, submeteram-se avaliação multidisciplinar constituída de: anamnese; avaliação fonoaudiológica, de acordo com o protocolo MBGR; exame OTRL clínico e endoscópico; avaliações oclusal e fisioterapêutica (permeabilidade nasal e postura corporal). A permeabilidade nasal foi medida por meio do Pico de Fluxo Inspiratório Nasal (PFIN) e valores da escala Nasal Obstruction Symptom Evaluation (NOSE). A postura corporal foi avaliada com medidas biofotogramétricas (Software SAPO, v.0.68) como: Distância Cervical (DC); Alinhamento Horizontal da Cabeça (AHC); Ângulo de Flexo-Extensão da Cabeça (FE) e Distância Lombar (DL). Para a análise dos dados foram utilizados os testes U de Mann-Whitney, Kruskal-Wallis, Correlação de Spearmann e Regressão Logística Múltipla. PFIN e %PFIN foram menores nas crianças com sono agitado (p=0,006 e p=0,002), relato de obstrução nasal (p=0,027 e p=0,023), rinorreia (p=0,004 e p=0,012), fechamento labial assistemático na mastigação (p=0,040 e p=0,026), velocidade mastigatória reduzida (p=0,006 e p= 0,008), com alteração na deglutição de sólidos (p=0,006 e p=0,001) e somente PFIN naquelas com largura de palato reduzida (p=0,037) e alteração da fala (p=0,004). Foram encontrados valores menores de PFIN nas crianças com palidez das conchas nasais inferiores (p=0,040). PFIN e %PFIN foram maiores nas crianças com lábio levemente evertido (p=0,008 e p=0,000) e somente o PFIN naquelas com largura aumentada da língua (p=0,027). FE foi maior nas crianças com permeabilidade nasal diminuída (p=0,023). Foi encontrada correlação negativa e fraca entre FE e %PFIN (r=-0,266; p=0,002) e positiva e fraca entre DC e PFIN (r=0,209; p=0,016). Os escores da escala NOSE foram negativamente correlacionados com PFIN (r= -0,179; p=0,039). Foi observada associação do diagnóstico de respiração com: relato de obstrução nasal (OR =5,55), tempo de uso de chupeta (OR=1,25), tipo facial convexo (OR=3,78), ângulo nasolabial obtuso (OR=4,30), postura de lábios entreabertos ou abertos (OR=4,13), postura de língua no assoalho da boca (OR=5,88), largura do palato duro reduzida (OR=2,99), contrações não esperadas dos músculos orbiculares e mentual durante a mastigação (OR= 2,97), tonsilas faríngeas obstrutivas (OR=8,37), má oclusão classe II de Angle (OR= 10,85) e conservação gengival regular (OR=2,89). A permeabilidade nasal foi menor em crianças com sono agitado, sinais e sintomas de rinite, largura reduzida do palato duro e alterações nas funções de mastigação, deglutição e fala. Crianças com permeabilidade nasal reduzida apresentaram maior extensão da cabeça e esta alteração postural tende a aumentar à medida que o fluxo nasal diminui, indicando uma relação entre a postura craniocervical e permeabilidade nasal. Foram associadas com a RO as variáveis: relato de obstrução nasal; tempo de uso de chupeta; tipo facial convexo; ângulo nasolabial obtuso; postura de lábios entreabertos ou abertos; postura de língua no assoalho da boca; largura reduzida do palato duro; contrações não esperadas na mastigação; tonsilas faríngeas obstrutivas, má oclusão classe II de Angle e conservação gengival regular.