Uma hipótese de funcionamento psicomotor para a clínica de intervenção precoce
Resumo
Nesta tese objetivou-se construir e analisar a efetividade de uma Hipótese de Funcionamento
Psicomotor como estratégia para tratamento em intervenção precoce de bebês a termo e prematuros,
com risco ao desenvolvimento e/ou risco psíquico. Como objetivos secundários, reuniram-se
referenciais teóricos que integram uma Hipótese de Funcionamento Psicomotor, a partir de estudos
sobre desenvolvimento infantil, aspectos estruturais e instrumentais, os principais elementos
conceituais psicomotores: esquema (EC) e imagem corporal (IC) e sobre a clínica em intervenção
precoce. A tese tem cunho qualitativo, longitudinal, clínico quase experimental. Faz parte de um
estudo que avalia bebês com objetivo de identificar se existe diferença nos resultados dos protocolos
PRÉAUT, Indicadores de Risco de Desenvolvimento Infantil (IRDIs) e Denver II, entre prematuros e a
termo. A estratégia da tese foi de investigação a partir de estudo de casos múltiplos. A amostra foi por
conveniência, sendo um bebê nascido prematuro e um a termo, identificados com risco psíquico e/ou
atraso no desenvolvimento no estudo acima citado. Os bebês foram tratados em intervenção precoce
por um terapeuta ocupacional, e deu-se a partir de uma Hipótese de Funcionamento Psicomotor, por
três e cinco meses, respectivamente. Os atendimentos acontecerem uma vez por semana, e foram
filmados e relatados em diário de campo. As filmagens foram utilizadas para identificar cenas que
contribuíssem na discussão sobre a eficácia ou não do tratamento em intervenção precoce baseado
na Hipótese de Funcionamento Psicomotor. Os resultados foram obtidos comparando os objetivos
traçados e os efeitos do tratamento, identificando-se as estratégias de abordagem. Os dois casos
clínicos confirmam que a irregularidade psicomotora apresentada como problema de atraso no
desenvolvimento psicomotor em ambos, combinado a agitação psicomotora em um caso , pode ser
tratada a partir de uma Hipótese de Funcionamento Psicomotor, pois considera a singularidade da
interpretação dos sintomas como um anúncio do bebê sobre si e sobre o outro, pautado pelo
exercício familiar em que o bebê é estimulado a fazer/ser. Confirma a sensibilidade dos protocolos
PRÉAUT e IRDIs para detecção de risco de atraso no desenvolvimento e/ou psíquico. Os resultados
reforçam a tese de a hipótese do funcionamento psicomotor tornar-se um procedimento de avaliação
fundamental na clínica com bebê. Enfatizam a importância da interpretação sobre o efeito da
construção da IC sobre o EC do bebê em uma relação dialética com seus pais. A IC é interpretada a
luz dos conceitos psicanalíticos de função materna e paterna para garantir os lugares de suposição
de sujeito desejado e castrado, a partir do lugar do sinthoma dos pais. O EC é tomado como o
funcionamento motor e cognitivo que anuncia o lugar psíquico em que a IC está sendo elaborada,
rompendo com a ideia de tratamento comportamental para bebês. Sob a ótica de um terapeuta
ocupacional, a clínica da intervenção precoce construída por meio de aportes da clinica psicomotora
tomada como um fazer/ser, pode ser utilizada para o tratamento de bebês que apresentam atraso no
desenvolvimento com sintomas de aquisições motoras, cognitivas e psíquicas que devem ser
interpretadas a luz de uma Hipótese de Funcionamento Psicomotor.