Racionalidade neoliberal e sensibilização para a inclusão escolar de deficientes
Resumo
"Sensibilizar" é um dos verbos mais chamados à conjugação nas atuais políticas de inclusão no Brasil. Vários documentos ressaltam a urgência histórica de acesso, participação e aceitação de todos, especialmente na escola comum, e a convivência entre deficientes e não-deficientes vem sendo promovida com grande destaque na Contemporaneidade. Esta tese propôs problematizações sobre a proveniência, a emergência, o funcionamento e os efeitos desse chamado no país. Para tanto, debruçou-se sobre um conjunto de documentos, que inclui revistas, manuais, testes, cartilhas e campanhas, os quais objetivam conscientizar a comunidade escolar sobre a inclusão de deficientes. O interesse central desta pesquisa foi compreender como a racionalidade neoliberal vem conduzindo modos de subjetivação a partir das práticas de sensibilização para a inclusão escolar de deficientes no Brasil. Tal problematização mobilizou ferramentas analíticas desenvolvidas por Michel Foucault, entre as quais, destacam-se: governamentalidade, governo pela verdade e subjetivação. A partir de uma inspiração no método genealógico, buscou-se entender como assumimos as práticas de sensibilização como diretrizes de autoconduta frente aos deficientes na escola inclusiva. A analítica indicou a produção de uma ―pedagogia da sensibilização para a inclusão‖ que busca mobilizar todos e cada um a apostar nos benefícios, nos ganhos, nas vantagens advindas da convivência ativa com os deficientes na escola inclusiva. Nessas condições, foi possível destacar a funcionalidade das práticas de sensibilização para a inclusão escolar de deficientes como práticas de governo de si e dos outros, que vêm se produzindo no deslocamento histórico de um risco de conviver para um risco de não conviver. Ao promover o interesse pela transformação de si, pela parceria entre deficientes e não-deficientes, pelo nivelamento de sua própria performance inclusiva, a pedagogia da sensibilização vem se mostrando indispensável para a consolidação e manutenção do regime de verdade da inclusão. Técnicas de objetivação e subjetivação próprias de outras modalidades de condução das condutas tais como a confissão, a direção da consciência e o exame são remoldadas pelos princípios da cooperação e da concorrência, o que permite visualizar a imanência entre as práticas de sensibilização para a inclusão escolar de deficientes e a racionalidade neoliberal no Brasil.