Ciclagem biogeoquímica de nutrientes em Eucalyptus dunnii Maiden em uma microbacia hidrográfica experimental do bioma Pampa
Resumo
O plantio de grandes áreas com espécies exóticas é uma consequência da evolução
de toda uma estrutura industrial, que tem como objetivo atender a demanda por
produtos florestais. O uso destas espécies exige conhecimentos quanto às técnicas
de preparo de solo, adubação, mato-competição, além de manejo de resíduos e
intensidade de colheita, dentre outras. O objetivo deste trabalho foi avaliar aspectos
da ciclagem biogeoquímica de nutrientes em um povoamento de Eucalyptus dunnii,
estabelecido em uma microbacia hidrográfica localizada no bioma Pampa, município
de Alegrete/RS, em área pertencente à empresa Stora Enso S.A. Os seguintes
parâmetros foram avaliados mensalmente: a precipitação pluviométrica, dentro e fora
do povoamento, a deposição de serapilheira, biomassa total, além da saída de
nutrientes por deflúvio da microbacia hidrográfica. A precipitação foi amostrada por
meio de doze coletores de precipitação interna, doze coletores de solução decorrente
do escorrimento pelo tronco e por três coletores externos ao plantio florestal. O
deflúvio foi amostrado com auxílio de recipientes de 500 ml para coleta de água,
realizada no vertedouro com uma calha tipo flume. A amostragem da serapilheira foi
obtida por meio de dezesseis coletores de 0,5 m² de área útil, para avaliação das
frações folhas e miscelânea, além de dezesseis parcelas de coleta de galhos grossos.
A determinação de biomassa ocorreu a partir da derrubada de doze árvores,
consideradas representativas de quatro classes de diâmetro, junto da escavação das
respectivas raízes. A precipitação dentro do povoamento, a deposição de serapilheira
e a biomassa foram avaliadas em quatro parcelas. A precipitação, a produção de
biomassa e de serapilheira e a saída de nutrientes do ecossistema por deflúvio, foram
avaliadas quanto à quantidade, a concentração de elementos e ao aporte dos
mesmos. Constatou-se que a precipitação total foi de 1.385,28 mm ano-1, valor
correspondente à média de 2012 e 2013, já a precipitação interna foi 91,4% e o
escorrimento pelo tronco foi 1,3%, sendo que 7,61% foram interceptados pelo dossel.
A precipitação efetiva anual foi 1.242,69 mm, correspondendo a aproximadamente
90% da precipitação pluviométrica local. Verificou-se que a interação da chuva com
as copas possibilitou a lixiviação de metabólitos presentes na poeira atmosférica
depositada na superfície dos tecidos, aumentando em 421% a concentração de K, em
24,0% à concentração de Ca e em 185% a concentração de Mg. Na precipitação
interna, a ordem de predominância foi Cl- > K+ > SO4- > Ca²+ > Mg²+ e para o
escorrimento pelo tronco a ordem de predominância foi K+ > Cl- > Mg²+ > Ca²+ > SO4-.
A biomassa total do povoamento foi de foi de 67,49 Mg ha-1, com sequência
decrescente de acúmulo de biomassa: madeira do tronco > raiz > casca do tronco >
galhos > folhas. A quantidade total de macronutrientes, em kg ha-1, foi de: 211,51 de
N; 22,12 de P; 199,88 de K; 39,70 de Ca; 86,42 de Mg e 25,05 de S; e a de
micronutrientes, em g ha-1, foi de 562,57 de B; 401,46 de Cu; 9.913,28 de Fe;
31.877,82 de Mn e 766,96 de Zn. Houve acúmulo de Mn nos componentes da
biomassa, além de que as maiores concentrações de nutrientes estão nos tecidos das
copas. No entanto, a maior quantidade de biomassa encontra-se na madeira. A
produção de serapilheira média foi de 7,0 Mg ha-1 ano-1. O material formador da
serapilheira é constituído por folhas, contribuindo com a maior parte da deposição
(64,3%) seguida por galhos finos (17,5%), ramos grossos (10,2%) e miscelânea
(7,9%), sendo Ca o elemento mais representativo nas frações folhas, galhos finos e
galhos grossos, apresentando-se apenas na fração miscelânea, inferior ao N. Os
elementos P e S apresentaram as menores concentrações. A transferência total de
macronutrientes foi de 163,00 kg ha-1 e de micronutrientes foi 9,73 kg ha-1, teores de
macronutrientes encontrados na serapilheira apresentaram a seguinte ordem Ca > N
> K > Mg > S > P e os teores de micronutrientes seguiram a ordem decrescente de
Mn > Fe > B > Zn > Cu. Foram simulados três sistemas de colheita: árvore inteira;
madeira do tronco+casca e somente madeira do tronco. Em todas as simulações os
saldos foram positivos. A permanência total dos resíduos da colheita no sítio propiciou
um maior percentual de retorno de macronutrientes ao solo. O peso da colheita do
Eucalyptus dunnii Maiden, plantado em solo arenoso e de baixa fertilidade natural
afetou, ainda que positivamente, de forma diferenciada a ciclagem biogeoquímica dos
nutrientes.