A institucionalização do desenvolvimento na perspectiva das organizações: um estudo de caso no Seridó/RN
Abstract
Esta tese tem como objetivo analisar o processo de institucionalização e a legitimação do desenvolvimento no Seridó Ocidental do Rio Grande do Norte. Para isso, foi necessário conhecer e analisar o campo organizacional, a legitimação e o processo de institucionalização nos sete municípios do Seridó Ocidental. Na metodologia, utilizou-se a pesquisa qualitativa e o estudo de caso. Como instrumentos de pesquisa, utilizaram-se o questionário semiestruturado e a entrevista. Também se fez uso da pesquisa bibliográfica e documental e da observação direta. Na definição das organizações a serem pesquisadas, buscou-se aquelas que tivessem uma significativa participação em ações de desenvolvimento ou que fizessem parte de algum fórum ou rede de organizações que articulassem as questões relativas ao desenvolvimento do semiárido. Uma das estratégias utilizadas para a definição das organizações participantes foi conseguir uma lista inicial com o Colegiado do Território da Cidadania do Seridó, que serviu de base para definir as organizações participantes. Nessa lista, percebeu-se que a maioria das organizações estava em Caicó, cidade polo regional. Entretanto, foi possível realizar a pesquisa com pelo menos dois líderes de organizações nas outras seis cidades que compõem o Seridó Ocidental. Para análise dos dados, foram definidas categorias de análise e, quando necessário, fez-se uso da análise de conteúdo. Entre os resultados, pôde-se observar que o Seridó Ocidental, mesmo estando localizado no semiárido brasileiro, uma região com graves problemas sociais, ambientais e econômicos, apresenta um bom desempenho em aspectos como saúde e educação, alcançando índices significativos no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). O indicador Emprego e Renda foi o de mais baixo índice em todos os municípios do Seridó Ocidental. No que se refere ao campo organizacional, nota-se que existem organizações internas (endógenas) e externas (exógenas) que participam desse campo, elas nem sempre se relacionam diretamente, e as organizações exógenas conseguem ter grande poder para influenciar políticas públicas e para conseguir recursos para a região, inclusive com organizações ligadas ao Governo Federal ou organizações estrangeiras. O isomorfismo coercitivo aparece através do poder econômico e do poder legal das organizações que controlam o uso de recursos, e a legalidade das organizações, o isomorfismo regulativo e o cognitivo estão relacionados com as instituições locais e com a identidade das pessoas que compõem as organizações. Nesse ponto, através dos questionários, ficou aparente uma disputa entre os grupos tradicionais locais, ligados aos ditos coronéis, e as novas organizações da sociedade civil. Com relação à legitimidade, nota-se que a identidade do seridoense é bem presente nas organizações, as instituições locais, através dos valores, das regras e dos mitos, ajudam a explicar o ponto de vista das pessoas sobre o desenvolvimento, e como elas percebem as organizações que trabalham com esse tema. A identidade do seridoense é marcada pela resistência às adversidades ambientais e pelo apego às coisas do lugar. Nota-se, nas respostas, que a legitimidade das organizações que trabalham com o desenvolvimento está muita associada à solução das questões mais urgentes e práticas da comunidade, como, por exemplo, as questões ligadas à saúde, à educação e ao emprego. Por fim, o termo desenvolvimento está em processo de institucionalização, inclusive com características de desinstitucionalização e de pré-institucionalização, pois da década de 70 até os dias de hoje o termo foi sendo reformulado e pode-se dizer que o Seridó passou por várias experiências, nem sempre exitosas, que acabaram contribuindo para não se ter uma definição comum do que seja desenvolvimento.