Tecendo tradição: artesanato e mercado simbólico em uma comunidade rural do Pampa Gaúcho
Resumo
O presente estudo visa uma aproximação da temática artesanato e mercado
simbólico, tendo em vista a comercialização dos produtos gauchescos na
comunidade rural de artesãos da Vila Progresso em Caçapava do Sul/RS, a
qual desenvolveu-se inicialmente trabalhando com técnicas tradicionais do
artesanato em lã, praticadas por várias gerações e transmitidas através das
mulheres. Esses saberes produzem na prática peças simbólicas do modo de
vida do gaúcho do passado, reinventado no presente pelo Movimento
Tradicionalista Gaúcho (MTG) e por vários elementos culturais contemporâneos,
como o apreço pelo autentico e pelo rústico. A partir desse contexto o estudo
teórico das temáticas citadas norteiam a problemática de pesquisa, a qual
procurou investigar: se o artesanato na Vila Progresso em Caçapava do Sul/RS
foi transformando-se em função do mercado simbólico dos produtos
gauchescos? Em que sentido ocorreram estas transformações e quais foram
as consequências das mesmas para a comunidade de artesãos? Como
objetivo geral, procurou-se compreender as relações que se estabelecem
entre artesanato e o mercado simbólico dos produtos gauchescos na
comunidade citada, bem como, as possíveis mudanças que possam ter
ocorrido em função dessa relação e as implicações das mesmas para a
comunidade. Essa pesquisa parte de uma metodologia qualitativa, configurase
como um estudo de caso, com perspectiva exploratória, descritiva e
reflexiva, onde as principais bases teórico-metodológicas estão embasadas
nos autores Bourdieu (2007) Canclini (1983), e Oliven (2006). Como resultado
da pesquisa, observa-se que houveram várias mudanças no cotidiano dos
artesãos com a ampliação da demanda por produtos simbólicos da tradição
gaúcha, incentivada pelo tradicionalismo, em um momento inicial, e pela
valorização das culturas locais em função de um hibridismo cultural vivenciado
pela sociedade contemporânea. A comunidade de artesões passou a
diversificar os artigos artesanais a serem comercializados nas tendas do local,
abrangendo uma ampla variedade de produtos rústicos em lã, couro e
madeira, tendo em vista, suprir as necessidades de um consumidor que tem
apreço pelo rústico ou que cultiva as tradições inventadas, como consequência
de tal fato os artífices cresceram e conseguiram estabilidade econômica com
a expansão desse mercado. Sendo assim, a diversificação trouxe uma série
de elementos novos para os aspectos produtivos e comerciais dos artesãos no
local, onde os artesãos estão construindo novas estratégias comerciais e
ampliando as relações comerciais, mas sem perder a autoria do processo de
produção das peças em lã.