Suplementação de ácidos graxos e atividade física sobre os distúrbios do movimento, memória e ansiedade em ratos: parâmetros comportamentais e bioquímicos
Date
2012-01-30Metadata
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Ácidos graxos (AG) provenientes da alimentação são fundamentais na arquitetura das membranas fosfolipídicas cerebrais, e podem modificar plasticidade e fluidez, atuando de forma decisiva no desenvolvimento de patologias cognitivas e neuropsiquiátricas. Hábitos de vida saudável incluem alimentação balanceada e atividade física, cuja regularidade tem sido descrita como uma forma de prevenção ou reabilitação de doenças que afetam o SNC. Este estudo foi inicialmente designado para avaliar a influência do exercício regular na prevenção de danos oxidativos comumente induzidos por haloperidol. O exercício preveniu o desenvolvimento de discinesia orofacial (DO) e os prejuízos locomotores induzidos pelo antipsicótico. A atividade da catalase foi recuperada na região subcortical, prevenindo a lipoperoxidação cortical e subcortical. Ainda na região subcortical, houve uma correlação positiva entre a lipoperoxidação e a DO, concomitante à uma correlação negativa entre a atividade da catalase e a DO. Enquanto estes dados reforçam o envolvimento do estresse oxidativo (EO) no desenvolvimento dos distúrbios do movimento, o exercício físico foi capaz de aumentar a atividade do transportador de dopamina, contribuindo para a redução dos níveis do neurotransmissor no estriado, freqüentemente elevado por ação do antipsicótico.
Na seqüencia dos estudos, ratos recém desmamados foram suplementados com diferentes AG (óleo de soja-OS, rico em AG poliinsaturados; banha de porco-BP, rico em AG saturados; e gordura vegetal hidrogenada-GVH, rico em AG trans) e exercitados diariamente nos 3 meses finais. Após 15 meses, os animais foram designados para o experimento 1 ou 2. No primeiro, avaliou-se comportamentos de ansiedade (labirinto em cruz elevado), memória (labirinto de Barnes), bem como a atividade da Na+K+-ATPase no córtex e hipocampo. A suplementação GVH causou uma incorporação de cerca de 0,30% de AG trans no cérebro dos animais, enquanto a BP de 0,20%, não sendo observada incorporação trans no grupo OS. Esta incorporação não influenciou os sintomas de ansiedade nos grupos BP e GVH, mas o exercício beneficiou o grupo OS, aumentando seu comportamento exploratório e de risco. Um déficit de memória foi observado no grupo GVH, mas revertido pelo exercício físico, igualando a aquisição de memória dos três grupos experimentais. A atividade da Na+K+-ATPase foi menor no córtex e hipocampo dos animais tratados com GVH, não sendo modificada pelo exercício.
No 2º experimento, ratos suplementados com os diferentes AG apresentaram incorporação cerebral similar aos acima descritos. Estes animais foram submetidos a avaliações comportamentais de DO, locomoção e atividade das enzimas Na+K+-ATPase e catalase no estriado. A suplementação GVH foi associada ao aumento da DO, a qual foi intensificada pelo exercício nos grupos GVH e BP. A locomoção foi reduzida nestes dois grupos e não foi modificada pelo exercício. A atividade da catalase foi menor nos grupos BP e GVH, mas elevada pelo exercício neste último. Os diferentes AG não modificaram a atividade da Na+K+-ATPase, a qual foi elevada pelo exercício nos animais suplementados com OS e BP. A incorporação de AG trans nas membranas cerebrais pode estar relacionada aos prejuízos motores observados, principalmente, no grupo GVH, enquanto a ausência desta incorporação no grupo OS, ao melhor desempenho motor e atividades enzimáticas.
Tomados em conjunto, os dados apresentados sugerem que hábitos de vida saudáveis, os quais incluem ingestão reduzida de AG trans e saturados e a prática regular de atividade física, podem ser capazes de prevenir e/ou reduzir o desenvolvimento ou conseqüências de desordens neurológicas e neuropsiquiátricas.