Portunhol e sua re-territorialização na/pela escrit(ur)a literária: os sentidos de um gesto político
Resumo
Este trabalho de tese tem como objetivos discutir e interpretar a materialização do portunhol no domínio da escrita, dada a emergência de textos escritos na língua. Para conduzir a discussão, incialmente, são propostas algumas distinções no que se refere a práticas linguísticas nomeadas como portunhol , a fim de determinar as diferentes relações sujeito-língua a que essa designação remete em variados contextos, para então, chegar-se à literatura como meio de circulação do portunhol na escrita. Em um segundo momento, recorre-se ao aporte teórico dos estudos geográficos, em articulação com a Sociologia e a Antropologia, para pensar sobre as noções de apropriação, espaço, território, territorialidade e fronteira, entre outras, que possibilitam tomar a materialização do portunhol na escrita como uma forma de apropriação do espaço da página, promovendo sua re-territorialização. Posteriormente, discute-se sobre as noções de escrita e escritura, procurando diferenciá-las, pois entende-se que a manifestação do portunhol na escrita traz em si um indissociável processo de escritura, ao mesmo tempo em que aponta para a constituição de um gesto político. Na continuidade do trabalho, delineia-se as noções que dão corpo à perspectiva teórico-metodológica que fundamenta este trabalho do ponto de vista dos estudos da linguagem, qual seja, a Semântica da Enunciação, baseando-se, principalmente, em Guimarães 2005, 2007b e 2011. Buscando contemplar os objetivos desta pesquisa, tomou-se para a análise recortes de textos das seguintes publicações: Noite nu Norte: Poemas en Portuñol (2010) e Viento de Nadie (2012), de Fabián Severo; Dá gusto andar desnudo por estas selvas: Sonetos Salvajes (2002), Uma flor na solapa da miséria (2005), de Douglas Diegues. As duas primeiras são representativas do portunhol falado na região de fronteira uruguaio-brasileira, registrado de um modo particular nos poemas escritos por Severo. As duas últimas, estão escritas em portunhol selvagem, língua em que o poeta Douglas Diegues escreve seus poemas, inspirado nas relações linguísticas que constituem a fronteira do Brasil com o Paraguai. Os textos foram analisados a partir de recortes específicos em que se procurou evidenciar, em primeiro lugar, a distribuição dos lugares de dizer nas publicações bem como, a mobilização das línguas, tendo como foco o portunhol e em segundo lugar, modos de redizer e significar a fronteira nos textos a partir dos procedimentos de reescrituração e articulação.