A produção do conhecimento sobre a língua na segunda metade do século XX no Brasil: o funcionamento da contradição no discurso do gramático
Abstract
A presente pesquisa, filiada à Análise de Discurso de linha francesa pecheuxtiana e
à História das Ideias Linguísticas, tem o objetivo de propor uma reflexão sobre a
contradição que se estabelece entre as diferentes tomadas de posição do sujeito
gramático ao produzir conhecimento sobre a língua. Para tanto, como ponto de
partida para a nossa reflexão, selecionamos três gramáticas publicadas em meados
do século XX, mais especificamente entre 1956 e 1961, a saber, Gramática
Normativa da Língua Portuguesa, de Rocha Lima (1957), Gramática Resumida,
de Celso Pedro Luft (1960), e Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo
Bechara (1961). Nessas gramáticas, dedicamo-nos a compreender como se
constitui a contradição entre as diferentes tomadas de posição de sujeito gramático
em relação à apreensão de um mesmo objeto de conhecimento. Desse modo, a
contradição que referimos aqui é aquela que se manifesta no fio do discurso ao ser
retomado um enunciado que remete a outra tomada de posição sujeito. Para
compreender como se constitui o funcionamento da contradição no interior do
domínio do saber gramatical, mobilizamos, principalmente, a noção de discursotransverso
e as modalidades de funcionamento subjetivo (PÊCHEUX, 2009 [1988]).
Com esse dispositivo de análise, desenvolvemos uma reflexão para compreender
como se estabelecem as relações de contradição entre as tomadas de posição do
sujeito gramático. A partir do estudo desenvolvido, compreendemos que a
contradição se constitui entre as tomadas de posição do sujeito gramático e remete
à forma singular como o sujeito apreende o seu objeto de conhecimento. Além disso,
é preciso considerar que a tomada de posição sujeito, ainda que não se sobreponha
à tomada de posição sujeito dominante, também é regida por um processo de
identificação, de modo que não é possível a esse sujeito lançar-se para fora da
ideologia que o domina. Nesse sentido, ainda que o sujeito tenha a ilusão da
autonomia sobre seu dizer (esquecimento nº. 1) e acredite (ilusoriamente) que é livre
para tomar posição, o seu discurso é determinado histórica e ideologicamente pela
posição na qual ele se inscreve.