O imaginário sobre o sujeito professor nos documentos oficiais: entre o religioso e o jurídico, uma repetição ideológica, (não) idêntica
Resumo
A presente tese foi desenvolvida na perspectiva discursiva, realizada a partir de uma investigação sobre a história da educação superior no Brasil e a formação docente. Tem-se por foco compreender o funcionamento do discurso oficial nas políticas públicas à formação docente, como constitutivo do discurso sobre o sujeito professor, em especial o de Letras, alinhando essa pesquisa com a prática do estágio supervisionado obrigatório, para a obtenção da licenciatura. O ponto de partida da pesquisa está materializado nos documentos organizativos do Curso de Letras da Universidade de Cruz Alta/RS. O mote norteador está no recorte da nomeação guardião, definição dada ao formado em Letras. O dispositivo teórico foi estabelecido pela teoria do discurso, tomando-se como referência, para a análise, a linha francesa, pecheuxtiana, na sua articulação com a História das Ideias Linguísticas (HIL). Tentamos responder: Como se constituiu o discurso sobre o sujeito professor? Como ocorre o modo de produção de efeitos de sentidos, na relação do discurso oficial com o discurso institucional e o religioso?; O processo parafrástico discursivo é constitutivo do discurso sobre o professor? Para este estudo definimos os seguintes objetivos: 1) Compreender a constituição do discurso sobre o sujeito professor, evidenciado nos documentos jurídicos e institucionais, dentre os quais as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, por uma repetição ideológica (não) idêntica; 2) Analisar o movimento discursivo da paráfrase pelo discurso religioso, como funcionamento constitutivo do imaginário sobre o sujeito professor de língua portuguesa. O arquivo de análise foi constituído em documentos jurídicos diversos, que significaram a análise do funcionamento do discurso sobre, nas LDBs (Leis nº 4.024/1961; 5.540/1968 e 9.394/1996). Durante todo o processo de observação, realizado nos documentos essenciais à tese, não se pensou na predominância de um senso teórico ao analítico. Do contrário, o que tentamos fazer emergir, foi a fusão entre as duas apreciações. Fomos percebendo a necessidade de interação e confrontamento dessas ações em uma pesquisa que se coloca a analisar o discurso sobre. Mesmo assim, como forma de organização, esta tese está dividida em duas partes (I. A construção do percurso, e II. A materialização do discurso sobre) e cinco capítulos, a saber: 1) Para ler o arquivo: quando língua e história se (des) encontram; 2) Estabelecendo relações: a constituição da língua portuguesa como objeto de ensino à formação docente no Brasil; 3) Condições de produção e materialização do poder no discurso oficial: as leis de diretrizes e bases da educação; 4) Dispositivo analítico: (re)explicando um gesto de leitura e o olhar do analista; 5) O processo parafrástico como processo polissêmico: para além do discurso oficial, o discurso religioso. Os três primeiros capítulos constituem o dispositivo teórico, já com um viés analítico; os dois últimos trazem o dispositivo analítico, onde apresentamos nossa análise, bem como sustentamos os resultados que apresentamos nas considerações (não) finais. No quinto capítulo a tese se confirma: o processo parafrástico, numa repetição ideológica não idêntica, é constitutivo do discurso sobre o sujeito professor, materializado pelo discurso jurídico o qual se entrecruza com o discurso religioso. A nossa reflexão conduziu-nos à compreensão que o discurso oficial conjuga uma rede de relações com a ciência, a educação, a sociedade e a religião, conforme as condições de produção. Essa vinculação se estabelece, inclusive, com o cumprimento do estágio supervisionado obrigatório, descrito como prática legitimadora à licenciatura. Esse discurso, como movimento ideológico, vai sendo reproduzido pelos segmentos que compõem a sociedade. Nele, o discurso sobre o professor tem firmado sua identificação como um missionário, um vocacionado, restringindo a sua profissionalidade. Além disso, evidenciamos que a discussão sobre as leis que regem o ensino no país merece um espaço mais amplo nos cursos de formação docente.