Atividade do interferon tipo I suíno na proteção contra o vírus da febre aftosa (FMDV)
Abstract
Esse trabalho tem como objetivo avaliar o efeito adjuvante do interferon alfa suíno em animais imunizados com uma vacina recombinante de um adenovírus defectivo contendo as regiões codificadoras das proteínas do FMDV, bem como investigar alguns dos aspectos moleculares envolvidos na interação FMDV e a célula hospedeira em uma espécie susceptível. Na primeira fase do trabalho, o efeito adjuvante do interferon alfa suíno (pIFNα) foi avaliado em suínos imunizados com uma vacina recombinante, tendo como vetor o adenovirus humano tipo 5 (Ad5), contendo regiões do capsídeo do FMDV A24 e da proteinase 3Cpro do FMDV A12 (Ad5-A24). Os suínos foram separados em 5 grupos e inoculados com baixa (5x108 PFU) e alta (5x109 PFU) dosagem de Ad5-A24 na presença ou na ausência de pIFNα (Ad5pIFNα, 109 PFU). O grupo controle foi inoculado com 6x109 PFU da glicoproteína do vírus da estomatite vesicular (VSV) cepa New Jersey (Ad5VSNJV-G). Todos os suínos foram desafiados aos 42 dias pós-vacinação (dpv) com FMDV-A24. Após a inoculação, as amostras de sangue foram examinadas para a produção de IFN, a indução de genes induzidos pelo IFN e os anticorpos neutralizantes e resposta de imunoglobulinas específicos para o FMDV. Depois do desafio um número de parâmetros foram analisados incluindo a avaliação clínica, viremia, linfopenia; além dos anticorpos contra as proteínas estruturais e não estruturais do FMDV. Os resultados obtidos indicam que ambos os grupos que receberam Ad5-A24 em alta dosagem desenvolveram níveis de anticorpos neutralizantes pelos 14-21 dpv, que foram mantidos até o dia do desafio. Os níveis de IgG1 foram maiores que de IgG2 nesses dois grupos, sendo que a IgG1 é considerada a mais relevante para conferir proteção ao FMDV. Dentre esses grupos, o que recebeu o IFN apresentou níveis significativamente mais altos desta imunoglobulina. Atividade antiviral e o IFNα foram detectados nos animais que receberam o IFN. A respeito da presença dos genes induzidos pelo IFN nos leucócitos dos suínos vacinados com Ad5-pIFNα, todos os três genes incluídos neste estudo, PKR, OAS e Mx1, foram detectados pelo real time RT-PCR. Após o desafio todos os animais do controle desenvolveram viremia, linfopenia, lesões vesiculares e os anticorpos contra as proteínas não estruturais do FMDV. Os animais que receberam baixa dose de Ad5-A24 sem IFN tiveram sinais clínicos similares, exceto que poucos animais desenvolveram viremia. Porém, os suínos inoculados com a mesma dose da vacina de Ad5-A24 com o IFN apresentaram as lesões vesiculares com início tardio e somente um animal teve detectável viremia. Os animais vacinados com a alta dose de Ad5-A24 sem IFN não tiveram nenhuma viremia e poucas lesões foram detectadas tardiamente após a inoculação do FMDV. Quatro dos cinco suínos, que receberam a alta dose da vacina com o IFN, foram protegidos da doença e somente um animal neste grupo teve uma lesão vesicular, restrita ao local do inoculação do vírus por ocasião do desafio. Esses resultados indicam que IFNα realça o nível da proteção induzido pela vacina do adenovírus-FMD contra o FMDV homólogo, suportando o uso do IFNα como um adjuvante potencial em estratégias de vacinação de FMD. Para avaliar os efeitos da infecção pelo vírus da FMD na indução da resposta de IFNα⁄β do hospedeiro, células de origem suína foram previamente infectadas em diferentes multiplicidades de infecção com o FMDV e com um vírus mutante que teve o gene que codifica a protease L ou Lpro deletado, o FMDLLV. A síntese de mRNA do IFNα e β bem como de três dos genes induzidos pelo IFN, PKR, OAS e Mx1 foram avaliados por real time RT-PCR. A infecção das células pelo FMDLLV induziu altos níveis de mRNA do IFNβ quando comparados com os do FMDV original. Contudo, não foi possível detectar os níveis de mRNA do IFNα na presença de ambos os vírus. O aumento nos níveis de mRNA do IFNβ foi relacionado ao aumento nos níveis de indução dos mRNAs de PKR, OAS e Mx1, assim como dos altos níveis de atividade antiviral. Pelo uso da tecnologia de interferência do RNA, usando siRNA (silencing RNA) para bloquear a expressão do mRNA da PKR, foi possível demonstrar que o título do FMDLLV aumentou cerca de 200 vezes. Desta forma foi possível confirmar o papel desta proteína como um inibidor da replicação do FMDV. Os resultados obtidos demonstram que a Lpro tem um importante papel na regulação da resposta imunológica inata do hospedeiro quando da infecção pelo FMDV em vários níveis. Estudos anteriormente realizados indicaram que o controle era efetuado ao nível da tradução pela clivagem do eIF4G. Os dados obtidos neste trabalho indicam que a regulação também ocorre ao nível da transcrição e pela inibição da indução do IFNβ através de um mecanismo ainda não conhecido.