Plasma rico em plaquetas na cicatrização cutânea de gatos: padronização de técnica e aplicação clínica
Fecha
2015-03-09Metadatos
Mostrar el registro completo del ítemResumen
A cicatrização cutânea em gatos possui diferenças qualitativas e quantitativas quando comparada à de outras espécies, fato que parece predispor a problemas. Feridas que cicatrizam por primeira intenção apresentam menor resistência, taxa de contração e epitelização. Já na cicatrização por segunda intenção, a fase inflamatória é branda e a fase proliferativa apresenta surgimento e progressão lenta. Tendo em vista esses aspectos, torna-se importante a busca de meios que ajudem a favorecer e conduzir o reparo de feridas cutâneas em gatos. Este estudo objetivou a padronização de uma técnica para obtenção de plasma rico em plaquetas (PRP) autólogo em gatos e a avaliação de sua ação sobre a cicatrização de feridas cutâneas produzidas experimentalmente nessa espécie. Ele desenvolveu-se em duas etapas distintas: na primeira foram comparados três protocolos manuais para produção de PRP em gatos. Utilizaram-se 15 animais adultos hígidos e domiciliados, divididos aleatoriamente em três grupos. Cinco amostras de 4,5ml de sangue foram colhidas da jugular de cada animal, por sistema a vácuo, sequencialmente, em tubos com citrato de sódio. As amostras de cada grupo foram processadas por meio de protocolos de dupla centrifugação: P1 (113g 10 minutos; 652g 5 minutos); P2 (400g 10 minutos; 800g 10 minutos); P3 (400g 10 minutos; 600g 10 minutos). As concentrações plaquetárias obtidas no PRP dos diferentes protocolos e a relação entre o PRP e contagem de plaquetas foram comparadas por teste-t. A viabilidade do modo de coleta a vácuo para a espécie e a facilidade de execução das técnicas também foram avaliadas. Na segunda etapa, foram utilizados dez gatos adultos hígidos, domiciliados. Em cada animal foram produzidos, cirurgicamente, quatro defeitos circulares, pareados, com diâmetro de 1 cm, na pele, nas laterais esquerda e direita da linha média dorsal do tronco. As lesões de um lado foram tratadas com PRP líquido, obtido do próprio animal, de acordo com o melhor protocolo definido na primeira etapa do experimento. Os defeitos do lado oposto, considerados controle, foram preenchidos com solução de NaCl 0,9% estéril. As feridas foram avaliadas por três observadores, a cada três dias, por 28 dias. Considerou-se a presença de crostas, dor, edema, exsudato, tecido de granulação e a coloração. Os resultados foram avaliados estatisticamente pelo teste de Mann-Whitney em ranks. A área de cada lesão foi analisada por morfometria a cada sete dias e os dados comparados pelo teste-t. Também, semanalmente, foram obtidos fragmentos de pele contendo tecido normal e cicatricial a partir das duas lesões (tratada e controle) mais craniais. Os fragmentos foram corados por hematoxilina-eosina (HE) e tricrômico de Masson, e avaliados qualitativamente quanto a presença de crosta, úlcera, acantose, fibroplasia, colagenização e neovascularização. Esses dados foram analisados pelo teste de Mann-Whitney em ranks. O sistema de coleta de sangue a vácuo mostrou-se satisfatório e simplificou o procedimento. Duas das técnicas (P2 e P3) mostraram-se factíveis para a produção do PRP, proporcionando
concentrações superiores a 1x106 plaquetas.μl-1. O protocolo P3 mostrou-se estatisticamente superior na capacidade de incremento, e foi selecionado para uso nas feridas experimentais. Na segunda etapa, a técnica para coleta de sangue e o protocolo selecionado, mostraram-se satisfatórios. A utilização do PRP na forma líquida, depositado diretamente sob a lesão, tornou fácil sua utilização. Clinicamente, houve diferença estatisticamente significativa (p=0,025) e maior exsudação nas feridas tratadas no dia três. Na análise morfométrica, notou-se maior contração nas feridas tratadas com PRP, principalmente nos primeiros sete dias (p=<0,001). Na avaliação histopatológica semi-quantitativa não houve significância em nenhum dos parâmetros comparados. Logo, conclui-se que o método de coleta é eficiente, e podem-se considerar exequíveis as técnicas para obtenção do PRP em gatos, a partir dos protocolos P2 e P3. O protocolo P3 demonstra superior eficiência na capacidade de concentrar plaquetas, gerando um PRP de melhor qualidade. É possível a ativação do PRP líquido por meio da lesão tecidual. O aumento da exsudação sugere intensificação do processo inflamatório nas feridas tratadas. O uso terapêutico do PRP na forma líquida melhora a capacidade de contração em feridas produzidas experimentalmente em gatos, apesar da ausência de evidências histopatológicas pela avaliação adotada.