Efeito do disseleneto de difenila sobre a toxicidade induzida por cloreto de mercúrio em camundongos
Fecha
2008-12-04Metadatos
Mostrar el registro completo del ítemResumen
O mercúrio (Hg) é um elemento ainda sem função fisiológica no organismo
humano, sendo tóxico aos seres vivos. Este metal possui ampla aplicação na indústria
sendo, portanto, bastante importante na exposição ocupacional e ambiental. A
toxicidade do mercúrio depende da forma deste metal e pode afetar inúmeros órgãos,
tais como o cérebro, os rins e o fígado e, ainda, causar alterações hematológicas e
imunológicas. O estresse oxidativo parece estar envolvido na toxicidade induzida pelo
mercúrio, uma vez que este metal pode causar um aumento na produção de espécies
reativas de oxigênio (EROs) e distúrbios nos sistemas de defesa antioxidante
enzimáticos e não-enzimáticos. Desta forma, além das terapias convencionais por meio
de agentes quelantes, terapias utilizando agentes antioxidantes são testadas na
tentativa de reduzir os efeitos tóxicos deste metal. Considerando que o composto
disseleneto de difenila (PhSe)2 possui inúmeras propriedades farmacológicas, dentre as
quais destaca-se a sua ação antioxidante, o nosso objetivo foi verificar o efeito deste
composto em diferentes modelos de exposição ao cloreto de mercúrio (HgCl2) em
camundongos. As utilizações de outro agente antioxidante, a N-acetilcisteína (NAC), e
de um agente quelante de referência, o ácido 2,3-dimercapto-1-propanosulfônico
(DMPS), também foram avaliadas. Os resultados obtidos demonstraram que quando o
HgCl2 foi administrado de forma aguda e a utilização dos agentes terapêuticos testados
ocorreu de forma concomitante, efeitos tóxicos decorrentes destas interações foram
observados. De fato, a administração de NAC e DMPS, em animais expostos ao HgCl2,
causou toxicidade renal nos camundongos, o que foi evidenciado através de um
aumento nos níveis de uréia e creatinina e através da redução na atividade da enzima
Na+, K+-ATPase renal. Esta toxicidade foi devida a uma possível formação de
complexos tóxicos entre o metal e estes agentes. A administração de (PhSe)2 causou
100% de morte nos animais expostos ao HgCl2. Os efeitos tóxicos decorrentes desta
associação afetam o tecido hepático e, principalmente, o tecido renal. O dano hepático
foi caracterizado pelo aumento nos níveis de peroxidação lipídica e redução na
atividade da enzima catalase nos animais do grupo HgCl2 + (PhSe)2. O dano renal foi
caracterizado através de marcadores bioquímicos no plasma e na urina dos
camundongos. Além disso, os camundongos expostos a associação entre o HgCl2 e o
(PhSe)2 apresentaram inibições na atividade das enzimas glutationa S-transferase
(GST) e Na+, K+-ATPase renal. O dano oxidativo no tecido renal foi evidenciado através
do aumento nos níveis de peroxidação lipídica e aumento na concentração de ácido
ascórbico nos camundongos expostos ao HgCl2 e ao (PhSe)2, de forma concomitante.
Elevados valores de hemoglobina e hematócrito também foram observados nos
camundongos do grupo HgCl2 + (PhSe)2 e o dano renal parece estar envolvido neste
efeito. A formação de um complexo entre o HgCl2 e o (PhSe)2, o qual apresenta
atividades pró-oxidantes, é a hipótese mais provável para explicar esta toxicidade. Foi
observado também que a terapia preventiva com o (PhSe)2 foi efetiva em proteger
contra os danos nos sistemas hematológico e imunológico induzidos de forma
subcrônica pelo HgCl2. De fato, a exposição ao HgCl2 causou anemia nos
camundongos, o que foi observado através da redução nos níveis de hemoglobina,
contagem de eritrócitos e no hematócrito. Além disso, os níveis de leucócitos e
plaquetas também foram reduzidos pela exposição ao metal. As alterações
imunológicas foram evidenciadas pelo aumento nos níveis de imunoglobulinas. Todas
estas alterações, hematológicas e imunológicas, foram reduzidas pelo pré-tratamento
com o (PhSe)2. A ação antioxidante deste composto de selênio parece estar envolvida
neste mecanismo de proteção, bem como a formação de um complexo ternário inerte
entre o mercúrio, o selênio e a selenoproteína P. O (PhSe)2 também foi tão efetivo
quanto o DMPS em reverter os danos renal e hematológico observados após a
exposição subcrônica ao HgCl2. As alterações hematológicas (diminuição nos níveis de
eritrócitos, leucócitos e plaquetas) e as alterações no tecido renal, observadas através
do aumento nos níveis de uréia, creatinina e ácido úrico plasmáticos e através da
peroxidação lipídica renal, induzidos pela exposição ao HgCl2, foram revertidas pelas
administrações individuais de (PhSe)2 e DMPS. Entretanto, a utilização do (PhSe)2 de
forma associada ao DMPS não apresentou bons resultados, uma vez que as
administrações individuais destes dois agentes foram mais eficazes do que a
administração combinada. Com base nos resultados obtidos, nós podemos concluir que
a utilização do (PhSe)2 em intoxicações pelo HgCl2 deve ser ainda mais estudada, já
que, dependendo do modelo experimental utilizado, os resultados podem ser benéficos
ou pode haver uma potencialização dos efeitos tóxicos do mercúrio.