Atividades hepato e neuroprotetora do dietil-2-fenil-2-telurofenil vinilfosfonato
Resumo
Apesar do crescente uso dos compostos orgânicos de telúrio na química e
na bioquímica, pouco se sabe sobre a farmacologia de tais compostos. O Dietil-2-
fenil-2-telurofenil vinilfosfonato (DPTVP) é um telureto vinílico que apresenta baixa
toxicidade em camundongos e uma elevada atividade antioxidante in vitro. Estes
dados prévios da literatura nos encorajaram a avaliar mais a fundo esse potencial
antioxidante e os benefícios farmacológicos que o composto poderia proporcionar.
Foi verificado que o composto protege contra o aumento na peroxidação lipídica
em cérebro induzida por agentes neurotóxicos como o ácido quinolínico (QA) e o
nitroprussiato de sódio (SNP) in vitro em baixas concentrações (a partir de 1μM).
O DPTVP também protegeu contra a disfunção mitocondrial induzida por SNP em
córtex, hipocampo e estriado de ratos. Além disso, o composto demonstrou baixa
neurotoxicidade, uma vez que não alterou a viabilidade mitocondrial nem o
sistema glutamatérgico in vitro nas concentrações antioxidantes (até 50μM).
Diante da possível atividade neurotoprotetora observada in vitro pelo DPTVP, o
modelo de neurotoxicidade induzido por Mn foi utilizado a fim de avaliá-lo in vivo e
ex vivo. A exposição ao Mn por 4 meses (137mg/Kg) causou um prejuízo à
atividade exploratória e motora dos ratos, bem como alterações em parâmetros
bioquímicos analizados como aumento na lipoperoxidação, redução da viabilidade
mitocondrial e redução na captação de [3H]glutamato no estriado, aliado ao
aumento nos níveis do metal nessa estrutura. O tratamento por duas semanas
com o DPTVP recuperou parcialmente as alterações neurocomportamentais
devido à reversão dos danos oxidativos causados pelo Mn no estriado
observados post mortem. Além disso, os animais tratados com o DPTVP não
demonstraram níveis elevados de Mn no estriado, indicando que o composto
pode alterar as condições de transporte do Mn nesse area. Também foi verificada
a atividade hepatoprotetora do DPTVP contra o acetaminofeno (APAP) em
camundongos. Ambas as doses (200 e 300mg/Kg de APAP) causaram alterações
hepáticas como depleção de SH não-protéico, aumento nos níveis de TBARS,
inibição da δ-ALA-D, extravazamento de ALT para o sangue e danos morfológicos
aos hepatócitos, entretanto em diferentes intensidades. Dessa maneira, o
tratamento com DPTVP (30, 50 e 100μmol/Kg) foi bastante efetivo quando a dose
de APAP foi a de 200mg/Kg. Já na dose de 300mg/Kg de APAP, o composto
apenas recuperou de fato as alterações histomorfológicas dos hepatócitos. O
presente trabalho também evidenciou que a atividade antioxidante do telureto
vinílico provavelmente deve-se à sua atividade neutralizadora ou scavenger , uma vez que o composto mostrou-se efetivo em capturar tanto espécies reativas
de oxigênio (ERO) quanto de nitrogênio (ERN), como o H2O2, o OH , ON e o
ONOO-, provavelmente devido à formação de teluróxido favorecida pela estrurura
do composto. Esses resultados sugerem que o DPTVP possui ações hepato e
neuroprotetoras em baixas doses devido ao seu potencial antioxidante, e que a
formação de teluróxido seja essencial para esses efeitos.