Efeitos de dietas hiperglicídicas e hiperlipídicas sobre a peroxidação lipídica e a atividade da enzima deltaaminolevulinato desidratase em camundongos
Resumo
A ingestão crônica de dietas com alto teor de glicose, sacarose e lipídios
promove o desenvolvimento de resistência à insulina e DM tipo 2. Além disso, altos
níveis de glicose podem produzir alterações químicas permanentes em proteínas e
peroxidação lipídica. A enzima sulfidrílica δ-ALA-D, a segunda enzima da rota de
síntese do heme, é altamente sensível a elementos pró-oxidantes e sua atividade
pode estar inibida em diabéticos. Desta forma, este estudo foi designado para
avaliar os efeitos de dietas hiperglicídicas e hiperlipídicas sobre os níveis de
peroxidação lipídica e a atividade da enzima δ-ALA-D em diferentes tecidos de
camundongos.
O consumo de uma dieta rica em glicose, durante 25 semanas, causou um
aumento significativo nos níveis plasmáticos de glicose e triglicerídios, na quantidade
de TBARS no rim e no fígado, e um decréscimo na atividade da δ-ALA-D hepática
quando comparado ao consumo de uma dieta rica em amido. O nível sanguíneo de
HbA1c e as concentrações hepática, renal, e cerebral de TBARS foram mais altos em
camundongos alimentados com uma dieta rica em gordura do que naqueles
alimentados com uma dieta rica em amido, após 16 semanas de tratamento. As
atividades hepática, renal e cerebral da δ-ALA-D também foram menores nos
camundongos alimentados com a dieta rica em gordura. Além disso, foi encontrada
uma correlação positiva entre os níveis de HbA1c e a concentração de TBARS e uma
correlação negativa entre os níveis de HbA1c e a atividade da δ-ALA-D em todos os
tecidos analisados.
Os efeitos do alto consumo de sacarose (durante 4 semanas) sobre um
tratamento sub-agudo com cádmio também foram analisados. Houve um aumento
nos níveis de TBARS no baço e no fígado dos grupos tratados com cádmio ou
sacarose + cádmio. A atividade da δ-ALA-D testicular dos animais tratados com
cádmio ou sacarose + cádmio foi inibida, enquanto houve um aumento na atividade
desta enzima no sangue e no baço dos animais. Além disso, a atividade da Na+/K+-
ATPase diminuiu no cérebro e no rim dos animais tratados com sacarose + cádmio.
O consumo de dietas ricas em glicose e sacarose, durante 30 semanas,
aumentou o peso corporal, o índice de gordura abdominal e a glicemia; e, uma
correlação positiva foi observada entre o índice de gordura abdominal e os níveis
sanguíneos de glicose. Os níveis de TBARS também foram elevados no cérebro e
no rim e houve uma inibição na atividade da δ-ALA-D no sangue, no cérebro, no rim
e no baço de ambos os grupos. Além disso, os grupos tratados tiveram redução na
atividade da δ-ALA-D e níveis elevados de TBARS em relação a animais jovens. O
DTT, o qual reduz pontes dissulfeto, aboliu o efeito inibitório das dietas sobre a
atividade da δ-ALA-D; e, a reativação da δ-ALA-D pelo DTT nos grupos tratados com
glicose e sacarose foi elevada em relação ao controle, indicando um status mais
oxidativo desta enzima. Isto também foi observado quando os grupos tratados foram
comparados com camundongos jovens.
De uma forma geral, os resultados deste estudo indicam que o consumo de
dietas ricas em glicose, sacarose e gordura promove um estresse oxidativo
relacionado à hiperglicemia, o que poderia estimular a glicação e a oxidação de
proteínas e inibir a δ-ALA-D em camundongos. Nossos dados também indicam que o
alto consumo de sacarose, mesmo por um curto período, pode agravar a toxicidade
do cádmio sobre camundongos. Especificamente, as alterações na atividade da δ-
ALA-D encontradas nesse trabalho colocam esta enzima como um alvo em potencial
para acompanhar as oxidações fisiológicas ou patológicas causadas tanto pelo DM
quanto pelo envelhecimento.