Comportamento agonístico, deslocamento e padrões de atividade de lagostins neotropicais (Decapoda: Parastacidae)
Resumo
Este trabalho abordou o comportamento dos lagostins do gênero Parastacus. Foram realizados dois
experimentos: um descrevendo e comparando o comportamento agonístico de Parastacus brasiliensis
e P. pilimanus, em laboratório; e outro, em campo, objetivando o acompanhamento do deslocamento e
da atividade de P. pilimanus através de da técnica de radiotelemetria. Para o primeiro, os indivíduos
de ambas as espécies foram capturados, e levados ao laboratório, aonde foram pareados de acordo com
o comprimento cefalotorácico e dos própodos quelares. Dez duplas de P. brasiliensis e 13 de P.
pilimanus foram formadas, sendo aclimatados individualmente. As duplas foram filmadas por 20min,
durante os quais puderam interagir. Foram quantificadas a agressividade, a agressividade relativa, a
duração do primeiro embate, a duração média dos embates, o número de embates, o período de
latência, a representatividade de comportamentos agressivos, o número de aproximações, o número de
chicotes com antena e o número de batidas com quelípodo. As espécies foram comparadas quanto à
formação de hierarquias de dominância. Parastacus brasiliensis apresentou valores significativamente
maiores do que P. pilimanus em todos os parâmetros, exceto latência, número de embates e chicote
com antenas (apenas vencedores), enquanto P. pilimanus executou mais o ato bater com quelípodo .
Formação de hierarquias foi mais frequente em P. pilimanus do que em P. brasiliensis. Estes
resultados apontam a espécie fossorial, P. pilimanus, como menos agressiva. O repertório
comportamental diferiu do esperado para lagostins. Outra diferença foi a agressão não-escalada. Na
segunda etapa, foram realizadas duas campanhas, uma na primavera de 2010 e outra na primavera de
2011. Em cada, cinco indivíduos de P. pilimanus foram monitorados por sete dias através de
radiotelemetria. Verificações de posição foram realizadas às 13, 19, 22, 1, 4 e 7h. Temperatura do ar,
temperatura da água, velocidade da correnteza, oxigênio dissolvido, pH e condutividade foram
medidos diariamente. Os deslocamentos dos indivíduos foram comparados. Os lagostins foram
testados quanto à atividade, deslocamento preferencial à montante ou à jusante permanência nas
galerias. A influência dos parâmetros abióticos no deslocamento e a atividade circadiana também
foram verificadas. Apenas um lagostim, apresentou atividade significativamente maior que dois outros
lagostins. Não houve diferença significativa entre os deslocamentos. A permanência dos animais foi
maior dentro das tocas do que no riacho, e nenhum dos parâmetros abióticos influenciou o
deslocamento. Estes resultados foram os mesmos para as duas campanhas. Entre as campanhas, não
houve diferença em nenhum parâmetro. A análise de atividade circadiana revelou que apenas três
lagostins apresentaram atividade concentrada entre 19h49min e 02h11min. Os resultados apontam que
P. pilimanus move-se pouco, embora constantemente. A alta permanência nas tocas caracteriza essa
espécie como escavadora primária. O baixo potencial de dispersão dos indivíduos da população
investigada ressalta sua vulnerabilidade frente a distúrbios ambientais. Este baixo potencial de
dispersão também pode estar relacionado com a ocorrência de intersexualidade no grupo?. Ambos os
trabalhos abordam aspectos não documentados do comportamento de lagostins neotropicais, que
chamam atenção por se diferenciarem dos padrões gerais dentro dos Astacida, principalmente em
relação às espécies do hemisfério norte, as melhores estudadas até o momento.