Percepções e atitudes de moradores rurais em relação ao macaco-prego, Sapajus nigritus (Goldfuss, 1809), na área de influência de uma usina hidrelétrica no Rio Grande do Sul
Resumo
As invasões de cultivos agrícolas por animais silvestres vêm se tornando cada vez mais comuns. Em anos recentes a empresa gestora da Usina Hidrelétrica Dona Francisca tem recebido queixas de moradores locais sobre um suposto aumento da população de macacos-prego, os quais estariam provocando prejuízos em algumas propriedades rurais. Compreender as concepções e atitudes do ser humano com relação aos macacos é importante para esclarecer os fatores sociais que intensificam os conflitos, bem como os que favorecem a coexistência entre humanos e macacos-prego nessas áreas. O objetivo desse trabalho foi investigar as percepções e as atitudes de moradores das comunidades rurais em Ibarama, RS, no entorno da barragem Dona Francisca, com relação aos macacos-prego, visando à identificação de conflitos e suas possíveis causas. O estudo foi realizado através de entrevista semi-estruturada com o responsável pela propriedade e categorização das respostas a posteriori. Foram realizadas 31 entrevistas, entre setembro de 2010 e janeiro de 2012. A maioria dos entrevistados possui mais de 40 anos e mora no local desde a infância. A maior parte deles afirma que sempre existiram macacos nessa região e apenas dois associaram o "aparecimento" dos macacos à construção da barragem. O milho é o principal cultivo agrícola consumido. Uma parcela significativa dos entrevistados afirma que os macacos causam prejuízo em sua propriedade, mas a maioria desses não soube precisar as perdas. Apesar disso, a grande maioria considera os macacos importantes para a natureza e acredita ser possível a coexistência entre macacos e humanos nessas áreas. Embora esses prejuízos comprometam financeiramente algumas propriedades, é possível observar um cenário favorável à adoção de práticas educativas e conservacionistas que visem à proteção do macaco-prego e de seu hábitat.