Diversidade de caranguejos e estrutura populacional de Uca cumulanta Crane, 1943 (Decapoda: Brachyura: Ocypodidae) em um manguezal no Nordeste brasileiro
Abstract
O objetivo deste trabalho foi descrever a riqueza e a composição de caranguejos (Crustacea: Brachyura) de quatro pontos de amostragem no manguezal do Rio Formoso, Estado de Pernambuco, e em seguida, caracterizar a estrutura populacional do caranguejo chama-maré Uca cumulanta. Para isto, foram realizadas amostragens mensais no período de março de 2009 a abril de 2010, abrangendo todos os microhabitats. A temperatura do ar, temperatura da toca e salinidade foram mensuradas e correlacionadas com a abundância de espécies, também foram comparadas entre pontos de amostragem e período seco e chuvoso. Para determinar padrões na estrutura e composição da taxocenose de braquiúros foram realizadas análises multivariadas e calculados os índices de diversidade totais e para cada ponto de coleta. Foram registrados 7,544 exemplares de caranguejos braquiúros pertencentes a 23 espécies, 12 gêneros e a sete famílias. As famílias que apresentaram maior riqueza foram Ocypodidae e a Panopeidae. Em relação aos pontos de coleta a maior riqueza foi registrada no ponto 4 (18 espécies) seguida do ponto 1 (15 espécies), ponto 2 (13 espécies) e ponto 3 foi observada apenas 8 espécies de caranguejos. A maior abundância foi registrada no ponto 1 (2242) indivíduos, seguida do ponto 3 (2039), ponto 2 (1820) e ponto 4 (1443). Uca thayeri e U. leptodactylus foram as espécies mais abundantes. A maior diversidade de Shannon ocorreu no ponto 4, os ponto 2 e 3 apresentaram a mais baixa equitabilidade. A taxocenose de caranguejos apresentou um padrão espacial bem definido, com alta dissimilaridade entre os pontos de coleta, sendo maior entre os pontos 3 e 4 (72,01%). As variáveis ambientais não tiveram influência na abundância de espécies e também não variaram entre os pontos de amostragem, no entanto, entre período seco e chuvoso variaram. Os resultados demonstraram que a diversidade de caranguejos nas áreas do manguezal do Rio Formoso foi expressiva, porém, com índices baixos devido à dominância de algumas espécies, a área de coleta apresenta grande heterogeneidade espacial e as variáveis ambientais analisadas não tiveram influência sob a abundância de caranguejos neste local. Para caracterizar a estrutura populacional de Uca cumulanta, a partir de dados provenientes da coleta descrita anteriormente, foram analisados o tamanho médio de machos e de fêmeas, a distribuição de frequência em classes de tamanho de largura da carapaça (LC), a razão sexual, número de ovígeras e destreza na população. Foram coletados 346 indivíduos, sendo 211 machos e 135 fêmeas. Não houve diferença significativa no tamanho médio (LC) de machos (7,86 ± 1,07 mm) e fêmeas (7,88 ± 1,15 mm). A distribuição de frequência em classes de tamanho (LC) apresentou um padrão normal para ambos os sexos. A proporção sexual total foi desviada em favor dos machos (1,56: 1). Apenas cinco fêmeas ovígeras foram registradas e a população foi predominantemente destra. Em geral, a população de U. cumulanta apresentou-se estável e com características semelhantes a outras do gênero. Tendo em vista que a maioria dos manguezais tropicais ainda não foram bem explorados e há muitas espécies para serem descobertas, este estudo irá contribuir para o conhecimento da taxocenose de caranguejos local e assim fornecer subsídeo para projetos de conservação e manejo desta área estuarina.