Cultivo de eucalyptus reduz a diversidade da herpetofauna em área de campo no sul do Brasil
Resumo
A expansão da silvicultura sobre os ecossistemas campestres tem alterado dramaticamente a paisagem,
bem como afetado a biodiversidade e a sustentabilidade desses ecossistemas ao redor do mundo. Os
campos do sul da América do Sul detêm alta diversidade biológica e inúmeros casos de endemismos,
mas historicamente são insuficientemente protegidos em Unidades de Conservação e experimentam
drástica redução devido ao plantio de exóticas como o eucalipto, a acácia-negra e pinus. Os campos do
bioma Pampa em território brasileiro estão restritos ao estado do Rio Grande do Sul, onde estimativas
recentes apontam que estes desaparecerão dentro das próximas décadas se o corrente cenário de
mudanças na matriz produtiva for mantido. A fim de contribuir com subsídios à preservação dos
ecossistemas campestres, o objetivo dessa Dissertação foi estudar os padrões espaciais da distribuição da
herpetofauna (i.e. anfíbios e répteis), bem como de variáveis ambientais associadas, em campo nativo e
plantio de eucalipto localizados no bioma Pampa, Rio Grande do Sul, Brasil. Assim, campos nativos e
cultivos de eucalipto foram caracterizados e comparados quanto à riqueza de espécies, composição
taxonômica e abundância de anfíbios e répteis, utilizando armadilhas de interceptação e queda durante
oito meses de coleta (setembro de 2012 à abril de 2013). As comunidades de anfíbios e répteis estudadas
responderam negativamente à substituição dos campos nativos por cultivos arbóreos, pois foram
dominadas por poucas espécies no cultivo de eucalipto. Através da análise de aninhamento e teste de
similaridade, evidenciamos que os répteis responderam fortemente à alteração do hábitat, já que a
comunidade registrada no eucalipto foi um subconjunto empobrecido daquela registrada no campo
nativo, sendo ainda dominada por espécies comumente abundantes em áreas degradadas. Anfíbios
responderam fortemente quanto à abundância das espécies e sutilmente quanto à riqueza específica, mas
não responderam ao gradiente quanto à composição taxonômica da comunidade. As variáveis
ambientais mais fortemente relacionadas ao padrão de segregação observado entre o campo nativo e o
cultivo de eucalipto foram a porcentagem de vegetação rasteira recobrindo o solo e a luminosidade.
Nossos resultados indicam que o cultivo de eucalipto altera profundamente a estrutura da vegetação
rasteira, típica do ecossistema campestre e imprescindível à biologia de inúmeras espécies habitatespecialistas,
incluindo espécies raras. Nesse sentido, enfatizamos que a perda de hábitat campestre
devido à expansão da silvicultura configura séria ameaça à conservação da herpetofauna do bioma
Pampa. Tais efeitos poderão ser minimizados somente após a adoção de políticas públicas ambientais
especificamente comprometidas com a conservação dos ecossistemas campestres, até então
negligenciados.