Aves de rapina da mata do Alto Uruguai
Abstract
Como predadores de topo as aves de rapina são excelentes bioindicadores para qualquer ambiente. A comunidade divide-se em quatro ordens (Cathartiformes, Accipitriformes, Falconiformes e Strigiformes), apresentando grande diversidade de espécies. Muitas desaparecem com a alteração dos ecossistemas, sendo a perda de hábitat a principal causa de extinções. A América do Sul é o continente com maior riqueza de rapinantes, e só no Brasil já foram registradas 98 espécies. A degradação de alguns biomas, no entanto, tem ocasionado a extinção local de rapinantes com grandes requerimentos ecológicos. A Mata Atlântica, que tem pouco mais de 10% de sua cobertura florestal ainda preservada, tem sofrido ao longo de quase toda sua extensão a perda de algumas espécies que são bastante sensíveis a impactos antrópicos, como Harpia harpyja e Morphnus guianensis. Na região noroeste do Rio Grande do Sul a perda de florestas foi significativa e com ela grande parte da fauna que originalmente habitava a área. Dado o estabelecimento de áreas protegidas e a conexão com as extensas florestas de Misiones (Argentina), alguns locais ainda possuem vários rapinantes raros ou regionalmente ameaçados de extinção. É o caso do Parque Estadual do Turvo (PET) e da Terra Indígena do Guarita (TIG), que distam-se apenas 15 km numa paisagem fragmentada com remanescentes florestais sob diferentes atributos e em diferentes mosaicos. Nesse contexto procuramos identificar como a comunidade de aves de rapina responde aos fatores apresentados através de fragmentos em diferentes condições. Através de metodologia específica para rapinantes diurnos amostramos também a situação da comunidade de rapinantes na TIG. Foram amostrados 14 fragmentos e sete pontos na TIG. Os dados da TIG foram comparados àqueles encontrados em um estudo usando a mesma metodologia no PET. Os resultados demonstram que o único fator que influencia na riqueza e frequência de ocorrência de rapinantes nos fragmentos é a área. Fatores como isolamento (distancia entre um fragmento e o PET ou a TIG), quantidade de cobertura florestal no mosaico e forma do fragmento não foram significativos. Isso provavelmente se dá em função da grande capacidade dispersiva das aves de rapina, diferindo de outros grupos da fauna. A comunidade de aves de rapina da TIG apresentou-se muito semelhante àquela encontrada no PET. Destacamos alguns registros inéditos e de relevância conservacionista para a TIG, tais como Sarcoramphus papa, Leptodon cayanensis e Spizaetus melanoleucus. Apesar da TIG estar em um contexto menos favorável à conservação quando comparada ao PET, nossos resultados demonstram a importância da área indígena para a conservação dos rapinantes da região. Uma vez que rapinantes necessitam de grandes áreas, são territorialistas, deslocam-se com facilidade e apresentam aversão a perturbações, fragmentos grandes oferecem melhores condições de sobrevivência do que os pequenos, especialmente para as espécies com maiores necessidades ecológicas. Assim, estratégias que envolvam a preservação de grandes remanescentes florestais na região noroeste são fundamentais para a preservação da comunidade de aves de rapina da Mata do Alto Uruguai.