Influência de hábitos maternos na concentração de bifenilos policlorados (PCBs) em soro de cordão umbilical
Abstract
Os bifenilos policlorados (PCBs) são misturas de compostos químicos aromáticos sintéticos utilizados industrialmente desde a década de 30. Devido às suas propriedades físicas, tais como resistência a altas temperaturas e correntes elétricas, foram utilizados principalmente como fluidos dielétricos em capacitores e transformadores. A partir de estudos realizados constatou-se o seu efeito tóxico, tornando-se um desafio abolir o seu uso. Em 1976, nos Estados Unidos, deu-se o início a sua proibição, o que ocorreu no Brasil apenas em 1981, embora ainda seja permitida a utilização dos equipamentos eletro-eletrônicos em uso, até a sua substituição. A contaminação ambiental ocorre principalmente devido ao descarte inadequado de equipamentos eletro-eletrônicos antigos, contaminando a água e o solo. Estes compostos possuem grande afinidade pela gordura, acumulando-se nos tecidos adiposos do homem e dos animais. A principal causa da contaminação humana é a ingestão de alimentos contaminados, em especial, os alimentos de origem animal. Em função da toxicidade e grande persistência destes compostos, o objetivo do presente trabalho foi determinar os níveis de PCBs em soro de cordão umbilical coletado de 148 doadoras que tiveram seus filhos no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) no ano de 2006, verificando sua associação com os dados demográficos e hábitos de vida das doadoras e os dados dos recém-nascidos, obtidos através de um questionário. A determinação dos resíduos de PCBs foi realizada por cromatógrafo gasoso equipado com micro detector de captura de elétrons (GC-μECD) de Ni63, após extração através da técnica de hidrólise ácida. A confirmação foi realizada por cromatógrafo gasoso acoplado à espectrometria de massas (GC-MS). Foram encontrados valores médios de 0,18 ng mL-1 para o PCB 28, de 1,71 ng mL-1 para o PCB 52, de 0,82 ng mL-1 para o PCB 153, de 2,45 ng mL-1 para o PCB 138 e de 1,49 ng mL-1 para o PCB 180. O PCB 138 foi o mais freqüente, sendo detectado em 63,5% das amostras, seguido dos PCBs 180 (55,4%), 52 (54,7%), 153 (51,4%) e 28 (19,9%). As concentrações dos PCBs 153 e 180 foram correlacionadas negativamente com a altura das doadoras, enquanto que o PCB 52 obteve uma correlação positiva. As concentrações dos PCBs 138 e 180 foram correlacionadas com o baixo desenvolvimento dos recém-nascidos, afetando
negativamente o seu comprimento, enquanto que o PCB 28 apresentou diferença significativa nos bebês que tiveram maiores peso e perímetro cefálico, os quais obtiveram maiores concentrações. Em relação aos hábitos alimentares, foi constatada diferença significativa na concentração do PCB 153 em função do consumo de frutas: apresentou uma concentração maior no grupo das consumidoras do referido alimento. A alta concentração do PCB 153 no grupo das doadoras que necessitaram de um parto com fórceps diferiu significativamente dos outros grupos de parto. As doadoras residentes fora de Santa Maria tiveram maiores concentrações dos PCBs 153 e 180, diferindo estatisticamente das que residiam em Santa Maria, enquanto que as doadoras que tinham sofrido aborto tiveram concentrações mais altas do PCB 52, diferindo estatisticamente do grupo que não teve aborto. O grupo de recém-nascidos classificado com baixo peso ao nascimento também obteve concentrações mais altas do PCB 52, com diferença significativa do grupo de bebês com o peso normal. Em relação à presença de malformação nos bebês houve diferença significativa com as concentrações dos PCBs 28, 52 e 180, as quais foram detectadas em níveis mais elevados no grupo dos bebês malformados. Os resultados do presente estudo demonstram que a presença de PCBs no soro do cordão umbilical, em níveis significativos, pode influenciar negativamente na formação e no desenvolvimento do recém-nascido, resultando no nascimento de um bebê com baixo peso, menor comprimento e com a presença de algum tipo de malformação. Assim como o bebê, a mãe também pode sofrer conseqüências com níveis significativos de PCBs no soro do cordão umbilical, tais como a ocorrência de aborto e dificuldades no momento do parto. Não foram encontradas referências na literatura sobre a influência de PCBs na malformação de bebês, o que nos leva a deduzir que este seja o primeiro estudo realizado sobre o tema.