Avaliação de receptores hormonais em mulheres com recorrência tardia de câncer de mama: estudo de caso controle
Abstract
O câncer de mama, segundo tipo mais frequente de câncer no mundo, é o mais comum entre as mulheres, correspondendo por 25% dos casos novos de neoplasias a cada ano. As estatísticas indicam um aumento de sua incidência globalmente. Importantes modificações se firmaram na última década nas modalidades de tratamentos adjuvantes e neoadjuvantes, empregados no manejo das pacientes com câncer de mama. Essas modificações incluem a abordagem cirúrgica, as técnicas de radioterapia, as drogas empregadas na quimioterapia, o uso rotineiro de hormonioterapia e o advento de terapias com alvo molecular. Todas elas têm contribuído para o impacto positivo na sobrevida das pacientes. Na população mundial, a sobrevida média após cinco anos é de 61%, alcançando 85% em países desenvolvidos, conforme estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS). Uma prevalência cada vez maior de mulheres sobreviventes são acompanhadas em seguimento tardio. Contudo, mesmo após décadas, o risco de recorrência de doença se mantem. Esse risco reduz de forma significativa após os primeiros dois anos de tratamento, mas não se anula após mais de uma década de sobrevida livre de recorrência (SLR) do câncer de mama. Os fatores de risco e intervenções com impacto sobre a recorrência precoce são bem conhecidos, mas estas informações não são reprodutíveis para estratificação de risco de recorrência tardia. Neste contexto, a análise de receptores hormonais (RH), em destaque, os receptores de estrógenos (RE), é utilizada por guardar relação com a incidência de recorrência tardia do câncer de mama. Este trabalho buscou determinar o impacto destes RH sobre a recorrência tumoral tardia (RTT). O estudo reuniu os dados de todas as pacientes com RTT, que iniciaram acompanhamento por câncer de mama no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) entre os anos de 2000 e 2009. Portanto, foram analisados casos (21) e controles (42) para obtenção de dados referentes à histologia e biologia tumoral, às modalidades de tratamentos empregados, e quanto às características da RTT. Os resultados demonstraram um risco maior de RTT relacionada a estágios avançados (moderado ou elevado) de câncer de mama (P=0,01). Contudo o risco de RTT não foi associado ao perfil de RH (P=0,61) ou da superexpressão da oncoproteína HER-2 (P=0,48). Ainda, observou-se que a redução de risco de recorrência precoce de câncer de mama, obtida com tratamento adjuvante, não se estendeu à prevenção da RTT, o que aponta a necessidade de rotinas especificas para prevenir RTT. Conclui-se que as pacientes apresentam significativo risco de RTT, independente do perfil de RH. Globalmente, estas pacientes não estão contempladas na maioria dos recentes estudos envolvendo redução de risco tardio.