Investigação da doença aterosclerótica em pacientes transplantados renais e na lista de espera em acompanhamento ambulatorial
Resumo
O transplante renal é o tratamento de escolha para pacientes com doença renal crônica terminal, trazendo sobrevida e qualidade de vida superiores a terapia dialítica. Nos últimos anos, vem ocorrendo um aumento na proporção de óbitos relacionados às doenças cardiovasculares em pacientes transplantados renais, que são a principal manifestação da doença aterosclerótica. O objetivo deste estudo é avaliar a prevalência de aterosclerose carotídea em pacientes em lista de espera para o transplante renal e já transplantados em acompanhamento ambulatorial no Hospital Universitário de Santa Maria por meio de ecografia de artérias carótidas e correlacionar sua presença com o escore de Framingham. Realizou-se estudo transversal, prospectivo de 59 pacientes transplantados renais e não transplantados que aguardavam em lista de espera para transplante renal que frequentaram o ambulatório de Transplante Renal do Hospital Universitário de Santa Maria entre janeiro de 2012 a março de 2013. Realizou-se ecografia de artérias carótidas para diagnóstico e quantificação de aterosclerose carotídea, bem como cálculo do escore de Framingham por meio das variáveis coletadas. A prevalência de placas carotídeas foi de 59,38% nos pacientes submetidos ao transplante renal e de 70,37% naqueles em lista de espera. Não houve associação significativa entre os grupos quanto a presença de placas carotídeas (p=0,379) ou de sua gravidade (p=0,704). O grupo submetido ao transplante renal quando comparado ao grupo em lista de espera, esteve maior tempo em terapia dialítica (55,25 + 44,16 meses vs. 28,15 + 36,50 meses, p=0,00079), tinha menor média de idade (45,09 + 13,04 vs. 52,48 + 14,18 anos, p=0,042), menor número de pacientes diabéticos (9% vs. 52%, p=0,00033) e menor escore de Framingham (8,72% + 7,5 vs. 16,51% + 11,97, p=0,002). Não houve diferença significativa entre a presença de placa carotídea e o tempo de transplante renal (p=0,399) ou o tipo de esquema imunossupressor (p=0,939). Encontrou-se correlação intermediária (coef. Spearman =0,47, p=0,0065) entre o grau de Framingham e a gravidade da placa carotídea nos pacientes submetidos ao transplante renal e ausência de correlação (coef. Spearman=0,28, p=0,152) no grupo em lista de espera. Na análise de regressão logística para fatores associados a presença/ausência de placa carotídea, encontrou-se associação entre o Escore de Framingham e chance de placa carotídea (OR=1,104 [1,008-1,210, IC OR 95%], p=0,033). A doença aterosclerótica carotídea apresenta prevalência elevada tanto nos pacientes em lista de espera, quanto nos pacientes já submetidos ao transplante renal. Os fatores de risco cardiovasculares tradicionais, utilizados no escore de Framingham têm um papel importante no desenvolvimento das placas carotídeas.