Influência do metabolismo do ATP extracelular na sinalização purinérgica em linfócitos e plaquetas de pacientes com a forma indeterminada da doença de chagas
Resumo
A infecção pelo Trypanosoma cruzi causa a doença de Chagas (DC), uma doença inflamatória
crônica. A maioria dos indivíduos infectados não apresenta morbidade aparente, compatível com
a forma indeterminada da doença de Chagas (FIDC). Embora fatores relacionados ao parasito
possam influenciar a evolução clínica da doença, fatores como resposta imune e inflamatória do
hospedeiro têm fundamental participação na dinâmica da patologia. A resposta imune celular
está intimamente associada à presença de um infiltrado inflamatório tecidual, composto por
células mononucleares que proliferam e produzem citocinas pró e anti-inflamatórias. A reação
inflamatória desencadeada pela infecção pelo T. cruzi é mantida pela persistência do parasito no
hospedeiro, e produz alterações sistêmicas, incluindo alterações microvasculares. O sistema de
sinalização purinérgica desempenha um importante papel na modulação da resposta imune e
inflamatória, assim como da trombose vascular, através dos nucleotídeos da adenina (ATP, ADP
e AMP) e seu derivado nucleosídeo adenosina. Estas moléculas sinalizadoras são liberadas de
células como linfócitos e plaquetas em resposta ao dano ou ao estímulo celular por ação de
patógenos. Os efeitos dos nucleotídeos de adenina e da adenosina são promovidos através da
ativação de receptores purinégicos específicos e controlados por um complexo enzimático
localizado na superfície das células. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência da
sinalização purinérgica na regulação das disfunções microvasculares desencadeadas pela
infecção, bem como da resposta imune adaptativa induzida pelo hospedeiro, através da
determinação da atividade de ectoenzimas envolvidas no metabolismo do ATP em linfócitos e
plaquetas de pacientes FIDC. Foi observada uma diminuição nas atividades da E-NTPDase e da
E-ADA, representando uma conseqüência adaptativa do hospedeiro frente a uma baixa
estimulação antigênica durante o período de latência da doença. Logo, baixas concentrações do
ATP extracelular liberadas, levariam à indução de uma resposta Th2 que protegeria o hospedeiro
de uma intensa resposta Th1, enquanto, elevadas concentrações de adenosina extracelular
seriam responsáveis por efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores. Não foi observada
alteração na expressão da E-NTPDase em relação ao grupo controle, demonstrando que a
diminuição da sua atividade enzimática pode ser resultado de alguma modificação na
conformação tridimensional da própria enzima. Em plaquetas de pacientes FIDC, foi observado
um aumento nas atividades da E-NPP e E-5 -NT e uma diminuição na atividade da E-ADA, o que
poderia estar relacionado a um efeito tromborregulatório, com a formação e preservação dos
níveis extracelulares de adenosina, tendo em vista seu papel vadodilatador e cardioprotetor. A
agregação plaquetária diminuída observada nos pacientes FIDC, provavelmente ocorreu devido
à ação anti-agregante da adenosina circulante. Dessa forma, sugere-se que as ectoenzimas do
sistema purinérgico, responsáveis pelo metabolismo do ATP contribuem na tromborregulação e
na modulação das respostas imunes do hospedeiro durante a forma indeterminada da doença.