"Quilombo contemporâneo": o fluxo televisivo mediado pela identidade étnica e movimento social
Fecha
2008-03-04Metadatos
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Este trabalho se configura como um estudo de caso e tem como princípios norteadores os estudos culturais e a linha latino-americana da recepção. A pesquisa envolve participantes do Movimento Social Negro do município de Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul. Destacamos a complexidade da interação de uma cultura específica, a cultura negra, com a programação televisiva, que supomos atuar sobre ela pela difusão predominante de modelos culturais que geralmente se opõem as suas características. Uma de nossas hipóteses de trabalho é que, poucas vezes, os meios de comunicação viabilizam sinais de reconhecimento. Dessa forma, o envolvimento com o Movimento Negro é que possibilita compreender as
relações entre etnia, mídia e classe social, onde os ritos, crenças e costumes convivem com novas formas de organização e vivência da negritude. Para tanto, procuramos compreender como se dá a apropriação dos conteúdos do fluxo televisivo, incluindo interpretações e usos, pois acreditamos que a prática da recepção pode fundamentar um sistema de diferenciação simbólica do grupo étnico envolvido. Utilizamos, como modelos teórico-metodológicos, as
Mediações comunicativas da cultura de Martín-Barbero e a Teoria das Multimediações de Guillermo Orozco, desenvolvidos na América Latina. Pensando a recepção do ponto de vista
das mediações, selecionamos três delas para estudo: a Identidade Étnica, o Movimento Social e a Classe Social como mediação estruturante. Em relação à mediação da Identidade Étnica, a pesquisa demonstra que a etnia negra unifica as subdivisões de classe existentes no interior do Movimento Negro, como, também, é a base para uma ação política, prescrevendo princípios de orientação da conduta social baseados em uma memória comum, no pertencimento/distinção e na partilha da cultura negra. O contexto onde ocorrem as representações dos receptores, ou seja, onde se dá o significado televisivo atribuído por eles, é
definido pela mediação do Movimento Social, que também delimita o espaço das interações sociais bem como a perspectiva temporal adotada. A mediação ainda situa as balizas da discussão que envolve classe e etnia, revelando que essas categorias operam significativamente na recepção do fluxo, funcionando como sistemas de referência, a partir
dos quais as representações dos negros na TV são interpretadas. Entre as leituras realizadas, de acordo com as categorias de Stuart Hall, verificamos que, na classe média, as leituras opositivas são mais significativas. Por fim, constatamos que essas matrizes da identidade revelam núcleos resistentes no confronto com a televisão.