Relações de poder nos discursos do saber: antecedentes do dispositivo de popularização científica no Brasil e Uruguai
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2016-02-18Metadatos
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Esta pesquisa tem como tema os sentidos e mudanças históricas no discurso sobre ciência e tecnologia da especialidade agropecuária na região Platina. É orientada pela justificativa de conhecer como os discursos sobre a temática, veiculados por revistas especializadas em agropecuária, implantaram-se e possibilitaram sentidos para leitores ideais durante o século XX na região Platina, especificamente a zona da Campanha do Rio Grande do Sul e o Uruguai. Por outra via, almeja-se reconhecer como as relações de poder são exercidas no âmbito dos saberes científicos, possibilitando mudanças no discurso da comunicação pública da ciência no decorrer desse século. Para responder a tais inquietações, objetiva-se investigar os sentidos e mudanças ocorridas nas regularidades discursivas de periódicos que difundem os saberes científicos do Brasil e do Uruguai. As publicações trimestrais brasileiras são editadas sob a responsabilidade da Associação Brasileira de Criadores Ovinos (Bagé-RS) e veiculadas desde 1942. Do Uruguai, analisou-se a revista mensal, comercial e independente La Propaganda Rural (Montevidéu-UY), publicada desde 1901. A escolha por ambas foi realizada tendo em vista o longo período de produção, que permite a análise das mudanças ocorridas no discurso durante o século XX, e por elas se caracterizarem como produtos midiáticos especializados em difundir informações sobre agropecuária, incluindo os saberes científicos e tecnológicos da área. O panorama teórico-metodológico baseia-se no escopo da Análise do Discurso de origem francesa para apreender quais diferentes gêneros discursivos foram produzidos pelos periódicos e a quais formações discursivas os enunciados estão condicionados no decorrer das décadas. Com a abordagem teórica, entende-se que os discursos sobre ciências obedecem à formação ideológica de vontade de saber e utilizam-se os conceitos de comunicação científica, divulgação científica e jornalismo científico como formações discursivas. O conceito de popularização científica é adotado como um dispositivo que permite o exercício das relações de poder por não-especialistas no âmbito das ciências. A análise empreendida constatou a existência de quatro gêneros discursivos: o qualificativo, o prescritivo, o técnico, próprios da elaboração por especialistas, e o informativo-científico, produzido por jornalistas. Entende-se, ainda, que as mudanças na construção enunciativa e de sentido estão associadas ao início da produção dos periódicos pelas equipes editoriais de jornalistas. Com isso, a prática discursiva passa de um condicionamento exclusivo à formação de comunicação científica para um duplo condicionamento às formações de comunicação científica e de jornalismo científico, período no qual se apresenta os primórdios do uso do dispositivo de popularização científica, através do gênero informativo-científico.