Desvios fonológicos: significação parental e direcionamentos terapêuticos
Abstract
Este trabalho objetivou relacionar o desvio fonológico e o discurso parental (significação parental dada à criança), apresentando suas conseqüentes implicações nos Tratamentos
Fonoaudiológicos. Para tanto, baseou-se em uma metodologia qualitativa, a partir da Análise de Conteúdo. Participaram da pesquisa 18 (dezoito) pares familiar/responsável-criança diagnosticados como com Desvio Fonológico e encaminhados ao Centro de Estudo de Linguagem e Fala (CELF) do Serviço de Atendimento Fonoaudiológico (SAF) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Os instrumentos utilizados foram: a Análise da Interação Familiar-Criança, através da qual se observou a comunicação do par e a constituição de Sujeito; a Entrevista do Discurso Parental, onde foram
verificados os desejos parentais em torno da criança, o significado destinado ao desvio fonológico e
suas conseqüências; e as Pastas de Registro dos pacientes, que serviram como informação complementar aos demais dados. Os resultados iniciais, obtidos por meio da generalização dos dados das Entrevistas, compararam os participantes quanto à significação parental destinada tanto à
criança quanto ao desvio. Observou-se que, apesar das características comportamentais e temperamentais das crianças estarem ligadas aos discursos parentais, estes não apresentaram relação com o Desvio Fonológico, sendo que através deste estudo não foi possível apontar uma causa psíquica ao distúrbio. Todavia, através de uma visão particularizada de cada caso obtida através das Análises das Interações somadas às Entrevistas, notou-se uma falta de espaço à fala das crianças em 78% dos casos. Atestou-se que, em 60% dos casos, as crianças não haviam se apropriado de suas próprias falas (elas não puderam falar-se e comunicar seus desejos a partir de suas falas), por não haver espaço subjetivo destinado a elas. Sendo assim, a partir das discussões levantadas em comparação às informações das Pastas de Registro dos pacientes, foi possível inferir
intervenções clínicas à Fonoaudiologia: a adoção de significantes que marcam a história da criança, durante os atendimentos; o deslocamento da concepção de linguagem como objeto para a linguagem como função; e a sugestão de um olhar às questões transferenciais entre clínico e paciente. Desta forma, a pesquisa pôde atingir o objetivo de associar o Desvio Fonológico ao espaço destinado à criança através das significações parentais e lançar novos direcionamentos terapêuticos à Clínica Fonoaudiológica, embasados na Teoria Psicanalítica.