Programa de triagem auditiva neonatal: resultados de sua aplicação em um hospital universitário
Abstract
Os dados coletados durante a aplicação dos programas de Triagem Auditiva Neonatal (TAN) precisam ser registrados, avaliados e divulgados no meio científico, a fim de assegurar a qualidade e incentivar a criação e aprimoramento de outros serviços. Os indicadores de risco (IR) para a deficiência auditiva podem influenciar na ocorrência das Emissões Otoacústicas Evocadas Transientes (EOAET) e produto de distorção (EOAEPD), e no resultado da TAN. Os objetivos desta investigação foram analisar o programa de TAN no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) durante um ano;
verificar a influência da presença de IR para a deficiência auditiva sobre as EOAET e EOAEPD e sobre o resultado da TAN com EOAET. A amostra constituiu-se de 1198 neonatos e lactentes usuários do Sistema Único de Saúde. O critério de passa foi a presença de RCP e EOAET bilateralmente. Os IR foram investigados através de anamnese e pesquisa de prontuários, e foram relacionados às variáveis passa/falha
na TAN e ocorrência de EOAET e EOAEPD para cada freqüência avaliada. As crianças que falharam foram re-testadas em quinze dias, com os mesmos procedimentos. Ao persistir a ausência de RCP e/ou EOAET realizou-se avaliação de Potenciais Evocados Auditivos de Tronco Encefálico (PEATE). Ao apresentar alteração neste exame, foram encaminhadas para protetização. A TAN não pôde ser
considerada universal, já que o índice de crianças atingidas foi de 66,56%. A primeira triagem auditiva ocorreu até os 28 dias de vida em 78,80% (n=944) delas. Passaram na primeira testagem 91,49% (n=1096). Dentre as que falharam, 17,65% (18) não compareceram para re-teste. Das 84 crianças que retornaram, 17 mantiveram a falha e foram encaminhadas para PEATE. Em oito delas a surdez foi confirmada, sendo o
índice de surdez de 0,67%. O índice de encaminhamento para diagnóstico foi de 1,41% e o de resultado falso-positivo foi de 0,17%. O resultado da TAN é dependente da ocorrência de IR para a deficiência auditiva. A ausência de EOAET e de EOAEPD é dependente da presença de IR para a deficiência auditiva, assim como a presença de EOAET e de EOAEPD é dependente da ausência de indicador(es) em algumas
orelhas e freqüências. Os índices de encaminhamento para diagnóstico e de falsopositivo deste estudo sugerem que o programa é executado com eficácia, e demonstram que os profissionais que neles atuam possuem experiência adequada
para tal. Entretanto, o caráter universal e obrigatório da TAN ainda deve ser alcançado. A presença de IR pode influenciar na ocorrência das EOAE e no resultado da TAN. O IR que ofereceu maior risco de falha na TAN foi a icterícia neonatal. Alguns aspectos determinantes no planejamento, efetividade, manutenção e aprimoramento do programa foram delineados, e alguns deles já estão em execução.