Postura e disfunção temporomandibular: avaliação fotogramétrica, baropodométrica e eletromiográfica
Abstract
A disfunção temporomandibular (DTM) é uma patologia prevalente, com manifestações e sintomas que envolvem as estruturas do complexo crânio-cérvico-mandibular e prejuízo das funções estomatognáticas. A etiologia é multifatorial e, dentre os fatores desencadeantes e perpetuantes, tem sido referida a postura corporal. Porém, não existe um consenso na literatura da relação entre postura e DTM. Diante dessas controvérsias, esse estudo teve por objetivo avaliar a postura corporal, a distribuição das pressões plantares e a atividade elétrica dos músculos mastigatórios e cervicais em indivíduos com e sem DTM. Sessenta indivíduos, de ambos os gêneros, foram classificados pelo instrumento Critérios de Diagnóstico para Pesquisa de Desordens Temporomandibulares (RDC/TMD) e divididos em grupo estudo (GE - 30 indivíduos, com idade média 25 ±4 anos) e grupo controle (GC - 30 indivíduos, com idade média 22 ±2 anos). Avaliou-se a postura corporal por fotogrametria (software SAPo v 0.68®) nas vistas anterior, lateral esquerda e posterior; a distribuição das pressões plantares por baropodometria (software Footwork) e a atividade elétrica dos músculos mastigatórios (masseter e temporal anterior) e cervicais (esternocleidomastóideo e trapézio superior), bilateralmente. Estas últimas avaliações realizadas nas situações de repouso mandibular e máxima intercuspidação. O GE caracterizou-se por apresentar DTM de origem mista (muscular e articular). Observaram-se diferenças significantes em 33,33% das medidas fotogramétricas entre os indivíduos com e sem DTM. A distância cervical (p=0,0043), inclinação do tronco (p= 0,0038) e valgismo dos calcâneos (direito p=0,0087; esquerdo p=0,0444) foram significativamente maiores no GE e os indivíduos do GC apresentaram significante deslocamento anterior do alinhamento vertical corporal (p=0,033) e anteversão pélvica (p=0,0031). Na avaliação baropodométrica não houve diferenças entre os grupos. Porém, os indivíduos com DTM apresentaram diferença significante entre repouso e máxima intercuspidação (p=0,0274), com deslocamento anterior do centro de pressão nesta última, tendendo a normalização da distribuição das pressões plantares. Na avaliação eletromiográfica, somente o músculo temporal esquerdo estava significativamente mais ativo, no repouso, nos indivíduos do GE (p= 0,0147), não havendo diferença na máxima intercuspidação entre os grupos. A atividade elétrica aumentou significativamente do repouso para a máxima intercuspidação nos músculos cervicais em todos os indivíduos. Observaram-se correlações significantes entre a postura da coluna cervical alta e a atividade eletromiográfica dos masseteres direito e esquerdo no GE na máxima intercuspidação (p=0,0440; p= 0,0430, respectivamente). A partir dos resultados encontrados concluiu-se que a relação entre postura e DTM não pode ser totalmente esclarecida. Apesar dos indivíduos com DTM apresentarem maior desalinhamento na postura corporal global, não houve diferença na distribuição das pressões plantares e na atividade elétrica da maioria dos músculos avaliados entre os grupos. Entretanto, na máxima intercuspidação, os resultados da avaliação baropodométrica e as correlações entre fotogrametria e eletromiografia, em indivíduos com DTM, sugerem a relação funcional entre os sistemas estomatognático e postural.