O brincar e as estereotipias em crianças do espectro autista diante da terapia fonoaudiológica de concepção interacionista
Abstract
Os transtornos do espectro autista constituem um mistério ao clínico e ao pesquisador que se comprometem a desvendá-los, sobretudo pelas características linguísticas e de interação social apresentadas por crianças com essa psicopatologia, como as estereotipias e as peculiaridades no brincar. Esta pesquisa teve como foco de investigação a significação evolutiva do brincar e das estereotipias verbais e não verbais em crianças do espectro autista, a partir da terapia de linguagem em uma perspectiva Interacionista. Participaram deste estudo três meninos com diagnóstico de Transtorno Global do Desenvolvimento, suas mães e a fonoaudióloga responsável pela condução do processo terapêutico. Foram
realizadas filmagens de trinta minutos das crianças em interação com suas mães ou com a fonoaudióloga na brincadeira livre durante o primeiro e décimo mês de
terapia. Também foram feitas entrevistas continuadas com as mães. Os dados foram transcritos e analisados qualitativamente à luz da Psicanálise, como teoria da
subjetividade, e do Interacionismo, como teoria de aquisição da linguagem. Nos três casos, os discursos maternos demonstraram o impacto familiar provocado no sentimento materno pelo diagnóstico de autismo; precariedade da relação dialógica, na qual a interação era marcada por comportamentos intrusivos, excesso de pedidos
de informação, preocupações de cunho pedagógico e dificuldade em compreender o que as crianças falavam ou mostravam, o que gerava aumento das estereotipias. A
inclusão das mães no processo terapêutico, através das entrevistas continuadas e participação nas sessões, auxiliou na melhora do vínculo materno com as crianças e melhorou a dialogia. Também houve evolução no brincar dos sujeitos, registrando-se mudanças na relação objetal. As estereotipias diminuíram consideravelmente com o funcionamento dos sujeitos na linguagem e esta se deu pela melhora na atividade dialógica mãe-filho. Portanto, é possível concluir que a proposta de concepção Interacionista produz efeitos importantes no brincar e no funcionamento dos sujeitos
na linguagem.