Aspectos fonoaudiológicos e qualidade de vida de idosos residentes em um município de pequeno porte do RS
Resumo
Esta pesquisa ocupou-se dos múltiplos aspectos fonoaudiológicos implicados no
envelhecimento humano. Seu objetivo foi analisar a qualidade de vida relacionada à saúde geral e aos
aspectos fonoaudiológicos de uma amostra de idosos residentes em um município de pequeno porte do
Rio Grande do Sul. Teve como objetivos específicos caracterizá-los quanto à idade, sexo, estado civil,
escolaridade, classe econômica, condições gerais de saúde, bem como associar as manifestações
linguísticas e as percepções acerca da audição, voz e sistema estomatognático às condições biológicas,
socioculturais e a qualidade de vida. A amostra foi constituída de 237 sujeitos com 60 anos ou mais,
acompanhados nas Unidades de Saúde. Estes foram contatados, convidados a participar da pesquisa e
esclarecidos dos seus objetivos e procedimentos pelos Agentes Comunitários de Saúde. Em seguida,
assinaram o TCLE e responderam os questionários CCEB e WHOQOL Abreviado, bem como um
roteiro de avaliação fonoaudiológica, visando conhecer a linguagem oral e a percepção do idoso,
quanto a sua audição, voz e sistema estomatognático. Os dados demográficos, das condições de saúde,
das percepções sobre audição, voz e sistema estomatognático, bem como os referentes à qualidade de
vida foram analisados estatisticamente. Os dados de linguagem foram interpretados qualitativamente,
segundo referenciais enunciativo-discursivos que respaldam esta pesquisa. A amostra foi composta
por ambos os sexos; as mulheres representaram a maioria (62,4%); 45,1% dos idosos eram casados;
89% cursaram até 4º ano do Ensino Fundamental e 90% deles pertenciam às classes C e D. Destaca-se
que 85,7% dos idosos se queixaram de doenças e 84,8% usavam medicamentos; 37,6% apresentaram
queixas de alterações vocais; 46,4% de déficit auditivo; 28,7% de dificuldades na mastigação e 23,3%
na deglutição, sendo que 86,3% eram usuários de prótese dentária. Houve associação significativa do
uso de prótese dentária em mulheres (p=0,002) e alterações de voz na classe social B (p=0,039).
Quanto à qualidade de vida, houve associação significativa (p<0,05) em domínios do WHOQOL
Abreviado quando comparados os resultados entre grupos de diferentes situações sociodemográficas e
condições biológicas. A média do overall (domínio geral) da população estudada foi 14,74, sugerindo
boa qualidade de vida dos idosos residentes no município. Quanto à análise da linguagem oral,
constatou-se que os variados comandos não influenciaram diretamente as narrativas dos idosos, no
entanto as estratégias cooperativas/negociadas pelos interlocutores foram fatores determinantes para o
desenvolvimento e significação daquelas. Os temas mais recorrentes foram perda de familiares,
doenças, casamentos e nascimento dos filhos. Concluiu-se que fatores sociodemográficos
isoladamente não influenciam nas queixas de alterações fonoaudiológicas, assim como são pouco
impactantes na qualidade de vida. No entanto, fatores biológicos (sexo, idade, doenças em geral e
alterações da voz, audição, deglutição e mastigação) influenciam a percepção subjetiva de qualidade
de vida de idosos. Quanto à linguagem, comprovou-se que espaços de interação social possibilitam o
uso produtivo da linguagem. Convém que os fonoaudiólogos valorizem a percepção subjetiva dos
sujeitos sobre suas condições de vida e saúde, ampliando sua atuação para além da clínicoreabilitadora,
com o objetivo de garantir saúde integral aos idosos.