A resolução de problemas como uma interface interdisciplinar entre a matemática e o ensino de ciências
Resumo
São muitos os desafios para o ensino das ciências e da matemática, principalmente em uma perspectiva interdisciplinar, que possibilite a integração de objetivos, metodologias e conhecimentos das áreas das ciências da natureza e matemática. Entendendo esta dificuldade, buscamos averiguar neste estudo o impacto, na prática docente de professores de matemática, da formação continuada enfocando a resolução de problemas como uma interface interdisciplinar entre a matemática e o ensino de ciências. Para isso, contamos com a colaboração de professores de matemática da rede pública de ensino das cidades gaúchas de Alegrete, Barra do Quaraí, Itaqui e Uruguaiana, que aceitaram participar dos cursos de formação que compuseram esta pesquisa. Na primeira etapa deste estudo, analisamos as concepções de 56 professores, da amostra supracitada, sobre a interdisciplinaridade, a partir de declarações prós e contras escritas por eles sobre esta abordagem. Analisamos qualitativamente estas declarações, alicerçados na metodologia da análise textual discursiva. Identificamos concepções equivocadas ou apresentando lacunas epistemológicas, como conceituar a interdisciplinaridade como uma simples integração de conteúdos de duas ou mais áreas do conhecimento. Observamos que estas deficiências levam os docentes a terem receio em utilizar a abordagem interdisciplinar, seja por sentirem que a área da matemática é isolada das demais, ou por acreditarem que a utilização desta abordagem implicaria na desvalorização do conhecimento matemático, deixando de ensinar conteúdos importantes da matemática. Já a segunda parte desta pesquisa, é resultado dos encontros de formação continuada, estruturados de acordo com os três momentos pedagógicos de Delizoicov. Buscamos analisar a mudança da frequência com que os docentes utilizam a metodologia de resolução de problemas e suas concepções sobre a metodologia. Para tanto, aplicamos um questionário antes do curso de formação e o reaplicamos um ano após esta formação. Verificamos que a frequência com que os docentes utilizavam a metodologia de resolução de problemas foi aumentada no questionário aplicado um ano após curso. Atribuímos este aumento a mudança conceitual dos docentes sobre a metodologia de resolução de problemas, principalmente por passar a entender esta metodologia por uma ótica ausubeliana de aprendizagem significativa. Por fim, constatamos o potencial da formação continuada no âmbito da interdisciplinaridade para o aprimoramento da utilização da metodologia de resolução de problemas, sendo possível inferir que esta metodologia passou a ser entendida dentro da perspectiva da interdisciplinaridade pelos docentes.