Formação de professores e representações sobre o brincar: contribuições das idéias de Humberto Maturana
Resumo
O presente trabalho está vinculado à linha de pesquisa: Formação de professores, saberes e desenvolvimento
profissional e teve como principal objetivo investigar algumas das representações que um grupo de cinco
professoras têm sobre o brincar. Essas professoras, duas licenciadas em Educação Física e três em Pedagogia,
atuam nas séries iniciais do ensino fundamental de escolas privadas e públicas, respectivamente, no município de
Santa Maria/RS. A partir dos relatos sobre o brincar na própria infância (espaço escolar e extra escolar); no
decorrer da formação acadêmica; no início da carreira profissional; e, atualmente, frente ao aluno, buscou-se
analisar as falas e colocá-las em diálogo com as idéias do pensador chileno Humberto Maturana. Para tanto, o
recurso utilizado para a produção das informações foi uma entrevista semi-estruturada. Foi possível constatar
que as professoras se lembram com facilidade das brincadeiras vivenciadas na rua, nos pátios ou na casa dos
familiares. No entanto, é menos freqüente a recordação das brincadeiras realizadas na escola. Foi possível
perceber que, na época em que cursaram as licenciaturas, poucas foram as disciplinas da matriz curricular que
problematizaram ou oportunizaram experiências em relação ao brincar, sendo a maioria delas direcionada à
aprendizagem técnica. O brincar vem sendo entendido pelas professoras como um recurso, um método ou uma
estratégia para um determinado fim. Nesse sentido, o brincar exerce a função objetiva de disciplinar e orientar os
alunos para a aprendizagem de alguma coisa, a exemplo do letramento ou aquisição de habilidades motoras -
uma forma lúdica para a aprendizagem das tarefas escolares. O brincar também estaria associado aos jogos
didáticos, realizados em sala de aula, ou aos jogos esportivos, realizados no pátio e na quadra. Neste sentido, é
possível concluir, no que diz respeito à formação docente, que a iniciativa das professoras sempre foi um fator
importante para a auto-aprendizagem e autoformação. Talvez, até mais que a própria formação inicial. Muitas
das experiências profissionais docentes vão além da formação escolar e/ou acadêmica, pois há outros espaços de
significado particular que foram relevantes em suas trajetórias - o que influencia diretamente em suas atuais
práticas pedagógicas. Por mais que as professoras venham a criticar o aspecto da competição presente nas aulas e
a ênfase dada à cognição, percebo que há uma grande dificuldade para a mudança de entendimento sobre o
brincar, uma vez que se formaram nessa perspectiva. Tais aspectos dificultam reconhecer o brincar como um
princípio educativo: o da criança poder aceitar como legítimo o outro na convivência. Acredito que as
professoras possam proporcionar novos espaços de convivência num domínio de aceitação recíproca com seus
alunos, produzindo uma dinâmica na qual vão mudando/transformando juntos e em congruência. Dessa maneira, os currículos podem ser (re)organizados, no sentido de sensibilizá-las em sua formação, mobilizando a emoção
para uma formação humana solidária, fundamentada pelo amor. Assim, o brincar poderia ser percebido como um
fundamento do humano , como defende Maturana e que foi referência nessa pesquisa.