Ensino fundamental de nove anos: em busca da legitimação no cotidiano escolar
Resumo
Esta dissertação investiga como são implementadas as políticas públicas no cotidiano de uma escola particular e de uma escola pública estadual de ensino do município de Santa Maria, considerando a ampliação da escolarização obrigatória no Ensino Fundamental. Na perspectiva desta análise, definimos como objetivo geral: identificar as possíveis mudanças impulsionadas no cotidiano escolar vividas pelos professores no exercício da docência e nos demais sujeitos no exercício da gestão, considerando a ampliação da escolarização obrigatória no Ensino Fundamental. Estabelecemos como objetivos específicos: Analisar as concepções dos professores acerca da política educacional que ampliou o Ensino Fundamental de oito para nove anos; Identificar as mudanças realizadas no âmbito administrativo, físico e pedagógico; Conhecer as implicações e possibilidades que a proposta de ampliação obrigatória do ensino fundamental trouxe para as práticas pedagógicas. Para atendermos os objetivos propostos neste estudo, optamos pela abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso. Privilegiamos como fontes de informações a entrevista semiestruturada com os professores no exercício da gestão e professores no exercício da docência que atuam nas turmas que já sofreram alterações. Para análise dos dados coletados e das categorias de investigação e suas ramificações, adotamos a análise de conteúdo. A análise dos dados possibilitaram compreender como as políticas educacionais, em particular, as intenções dos legisladores saem dos documentos para se legitimar no dia-a-dia das escolas. Analisamos que, pela falta de subsídios e orientações sobre a proposta, antes e durante o processo de implementação, sentimentos de dúvidas, desconforto e insegurança foram vivenciados pelos professores nos exercício da docência e da gestão e pais. Mesmo os colegas tendo conhecimentos sobre a política pública do EF de nove anos, foram considerados insuficientes. Pelo fato da comunidade escolar não sentir participantes da construção da prerrogativa legal sinalizada, esta chegou de forma hierárquica e imposta. Ao promover a inclusão obrigatória da criança aos seis anos de idade no EF nos cotidianos escolares, podemos dizer que desestruturou o que estava, até então, estabelecido. Para cumprir com seu papel de legitimadora das políticas públicas, as escolas buscaram, dentro de suas limitações, implementar a proposta. As mudanças impulsionadas no cotidiano escolar vividas pelos professores no exercício da docência e no exercício da gestão foram significativas em ambos os contextos. Os diálogos constantes tecidos com os colegas nos levaram a conhecer as diversas implicações e múltiplas possibilidades que a proposta de ampliação obrigatória do ensino fundamental trouxe para as práticas pedagógicas vividas. Concluímos que a Política de ampliação do EF de nove anos está em processo de implementação, mas ainda distante de estar legitimado nos cotidianos estudados. Pois, para se dizer que houve melhoras na qualidade da aprendizagem, na aquisição de conhecimentos como a alfabetização e o letramento, é preciso tempo, acompanhamento e avaliações constantes. Pressupomos, também, que a legitimação do EF de nove anos em educação esteja vinculada à atuação docente, considerando que não são as leis que promoverão as modificações para garantir a qualificação no processo educativo, mas as práticas pedagógicas desenvolvidas pelos professores. São eles que, cotidianamente, vivenciam as práticas educativas no atual sistema de ensino.