Abrindo o livro das suas vidas: trajetórias de formação de quatro professoras negras
Resumo
A pesquisa denominada Abrindo o livro das suas vidas: trajetórias de formação de quatro professoras negras foi desenvolvida e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Mestrado do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na linha Formação, Saberes e Desenvolvimento Profissional, tendo como objetivo investigar a trajetória pessoal e profissional de quatro professoras negras pertencentes a diferentes gerações, bem como os seus imaginários e as possíveis significações de ser uma professora negra em momentos distintos da História do Brasil. Para tanto, foram convidadas quatro professoras que estudaram em diferentes momentos e que também marcaram minha história pessoal e profissional, embora duas delas tenham quase a mesma idade possuem uma trajetória de vida muito diferente. Esta temática foi sendo construída a partir de minha atuação como docente da educação básica, de meus estudos sobre negritude, gênero e educação, de minha participação em um grupo de pesquisa e, sobretudo, a partir de minha própria história de vida. Encontrei na narrativa autobiográfica um caminho promissor para desenvolver este trabalho, visto que aquilo que se buscava era uma aproximação de seus imaginários e suas possíveis lutas contra a branquitude instituída. O registro foi realizado por meio de gravação das entrevistas semi-estruturadas e sua posterior transcrição. Utilizei como referenciais Bosi (2004), Perrot (1997), Gomes (2009) e Castoriadis (1982). Percebi, em suas narrativas, muitas aproximações: a luta com a questão socioeconômica, a escolha pelo Magistério, a forte presença da figura materna em suas vidas. Também algumas divergências foram encontradas, em função até mesmo da linha temporal que as separa. Reconstituir a história de mulheres negras significa olhar para a história de gênero/etnia de quem sempre ficou à margem dos processos históricos. Saliento que o trabalho, além de ter produzido uma formação nas colaboradoras, conforme narrado por elas, também a mim resultou em formação/autoformação. Para todas nós a pesquisa produziu outro olhar sobre o Magistério, sobre as questões de negritude, de gênero e as professoras que éramos no início já não são as mesmas que se formaram/autoformaram. Importante ressaltar que suas histórias individuais também fazem parte da História coletiva, cada colaboradora trouxe marcas que fazem parte de suas trajetórias individuais e que, concomitantemente vêm ao encontro de questões mais abrangentes. A luta pela sobrevivência, a questão da religiosidade, o imaginário cotidiano foram algumas das categorias que apareceram em todas as vozes e outras as singularizaram mostrando que a marca da geração a que pertencem, ao ano em que nasceram, a época em que viveram também o Social inscrevendo no individual; a memória da ferrovia para a colaboradora mais antiga, bem como a questão das cotas raciais para a colaboradora mais jovem.